INTRODUÇÃO: Os síndromes paraneoplásicos (SPN) são uma condição pouco comum. Podem envolver diversos orgãos e sistemas, mas no que concerne ao sistema nervoso existem síndromes típicos que podem ser a 1ª manifestação de doença oncológica. As neoplasias neuroendócrinas (NE) são produtoras de citocinas, peptideos biologicamente activos e Ac responsáveis por 15% dos SPN. Os autores descrevem um caso de polineuropatia inflamatória desmielinizante crónica (PIDC) que surgiu com o diagnóstico de Cancro de Células Grandes NE do pulmão.
DESCRIÇÃO DO CASO: Homem, de 63 anos, fumador (50UMA), sem antecedentes pessoais ou familiares relevantes, com nódulo pulmonar detectado em Rx-tórax, pedida por rotina, 7meses antes do internamento. Realizou TC-toráx e biópsia transtorácica que confirmou o diagnóstico de carcinoma NE de grandes células, sem evidência de doença metastática. 2meses antes de ser internado foi submetido a Lobectomia pulmonar superior direita (T2N0M0). No pós-cirúrgico, iniciou quadro de parestesias e diminuição da força muscular (FM) de início no MIE e depois no MID, no sentido ascendente, instalando-se um quadro de paraparésia. 1semana após a cirurgia inicia perda de controlo de esfíncteres, com necessidade de algaliação permanente e obstipação. Foi excluída compressão medular com RM-Coluna, e ausência de evidência metabólica na PET-scan. 2semanas antes do internamento, o quadro neurológico evoluiu para tetraparésia e foi medicada pela Oncologia com dexametasona, sem melhoria. Neste contexto foi encaminhado para a Medicina Interna onde fica internado. No EO destacava-se FM grau 1/5 nos 4membros, com sensibilidade táctil diminuída nos MI, com arreflexia nos 4membros, simétrica. Analiticamente verificou-se anemia macrocítica, sem défice de vitaminas, discreta leucocitose com neutrofilia com PCR baixa e VS de 31mm, função tiroideia normal, serologias para Hepatite B, C, HIV e sífilis não reactivas, sem alteração na electroforese das proteínas ou do doseamento das imunoglobulinas; ANA e ECA negativo, CEA e CA 19,9 negativos. A punção lumbar apresentou pressão de saída normal, com dissociação albumina-citológica (PT 744 mg/dl e 1,6 leucócitos/mm3), com glicose normal. Nessa altura o diagnóstico de PIDC de eventual causa paraneoplásica era o mais provável. Foi medicado com Ig EV 25g/dia (0,4 g/kg) 5dias com discreta melhoria neurológica com posterior instituição de PND 60mg/dia. O resultado do EMG foi concordante com o diagnóstico PIDC. Em consulta multidisciplinar, a decisão de tentar controlar o efeito da neoplasia com QT foi afastada tendo em conta que só por si agravaria o quadro de polineuropatia.
DISCUSSÃO: A Medicina Interna sempre apresentou grande interesse pela multiplicidade e complexidade de diagnósticos. A objectivo de tratar a doença é uma característica que marca os internistas mas neste tempo de Medicina Baseada na Evidência, deve continuar-se a dar primazia às decisões baseadas nos conhecimentos, experiência e bom-senso.