23

24

25

26
 
TROMBOCITOPENIA – A IMPORTÂNCIA DA HISTÓRIA CLÍNICA NO DIAGNÓSTICO.
Doenças autoimunes, reumatológicas e vasculites - E-Poster
Congresso ID: P099 - Resumo ID: 297
Centro Hospitalar do Baixo Vouga
Mariana Silva Leal, Carolina Amado, Tiago Valente, Marcelo Aveiro, Ana Rocha Oliveira, Mariana Sousa
INTRODUÇÃO:
A síndrome antifosfolipídica (SAF) é uma doença autoimune que se caracteriza clinicamente por trombose arterial, venosa ou de pequenos vasos e/ou morbilidade na gravidez com evidência laboratorial de anticorpos antifosfolipídicos persistentemente positivos, muitas vezes associada a outras patologias auto-imunes do tecido conjuntivo, nomeadamente lúpus eritematoso sistémico (LES). A morbilidade obstétrica admite-se ser secundária à insuficiência vascular placentária, podendo ocorrer abortos ou partos prematuros. A trombocitopenia é uma manifestação comum na SAF, ocorrendo mais frequentemente quando associada ao LES do que na forma SAF primária. A pertinência do caso descrito pelos autores prende-se pelo estudo de uma alteração hematológica complementado com uma história clínica importante e orientação adequada posteriormente.

Caso Clínico:
Os autores descrevem o caso de uma doente do sexo feminino, 35 anos, grávida de 7 semanas, enviada à consulta de Medicina Interna por história de cansaço com alguns anos de evolução e trombocitopenia em análises de rotina, associada a equimoses fáceis, não espontâneas, sem história de hemorragia. Dos antecedentes pessoais de doente, salientava-se história obstétrica com 2 abortos no segundo trimestre e um parto prematuro aos 7.5 meses, sem outros antecedentes de relevo. Da análise da placenta do parto, destacavam-se lesões vasculares na circulação úteroplacentar que condicionam uma isquemia no parênquima placentar. Do estudo complementar realizado destaca-se trombocitopenia (66000 plaquetas), anticorpo anticardiolipina IgG e anticorpo anti glicoproteína beta 2 IgG positivos, anticorpos anti-nucleares borderline (ANA’s), anticorpo anti ds-DNA positivo e do estudo de coagulação, antitrombina discretamente elevada, sem outras alterações analíticas. Dos testes genéticos, doente portadora da variante c.677C>T do gene MTHFR em homozigotia. Doente iniciou antiagregação com ácido acetilsalicílico e, posteriormente, iniciou heparina de baixo peso molecular em dose profilática alta, com contagem plaquetar normalizada e estável, sem intercorrências até à data da gravidez em curso.

Discussão:
Neste caso temos um doente com uma história obstétrica que, aliada às alterações hematológicas (trombocitopenia), é muito sugestiva de síndrome antifosfolipídica. Como referido anteriormente, a trombocitopenia é mais frequentemente observada na SAF associada ao LES. Esta doente não apresentava qualquer sintomatologia que indiciasse patologia auto-imune, a não ser as queixas inespecíficas, astenia, a trombocitopenia e a evidência analítica de ANA’s no limite superior do normal com anticorpo ds-DNA positivo. Não podemos, no entanto, assumir o diagnóstico inequívoco de SAF primária, sendo importante considerar a possibilidade de se tratar de uma forma secundária a uma patologia auto-imune, tornando o acompanhamento desta doente essencial por uma equipa muldisciplinar.