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CHOQUE CARDIOGÉNICO GRAVE – A IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO E SUPORTE ADEQUADO PRECOCES
Doenças cardiovasculares - E-Poster
Congresso ID: P139 - Resumo ID: 301
Hospital Beatriz Ângelo
Yasmin Mamade, Manuel de Sousa, Sílvia Balhana, Carla Noronha, Francisco Pestana Araújo, José Lomelino Araújo
Os casos de miopericardite têm, muitas vezes, um desfecho inesperado. A possibilidade de suporte mecânico de bomba neste tipo de miocardiopatia reversível, mudou o desfecho de casos como o apresentado. A identificação de um agente infecioso, apesar de laboriosa e raramente conseguida, é imperativa já que pode possibilitar uma terapêutica dirigida.
Apresenta-se o caso de uma mulher de 72 anos, com história de hipertensão arterial e dislipidémia. Recorreu à urgência por queixas de mal estar geral e astenia desde há 2-3 dias. Encontrava-se vigil, hipotensa, apirética, sem outras alterações no exame objetivo. Analiticamente com azotémia ligeira, aumento de parâmetros de fase aguda e elevação marcada da troponina de alta sensibilidade; electrocardiograma em ritmo sinusal, sem sinais de isquémia aguda; gasimetria revelando hipoxemia, hipocapnia e ligeira hiperlactacidémia; realizou AngioTC-torácica que revelou densificações em vidro despolido bilaterais, mínimo espessamento pericárdico, sem evidência de tromboembolismo; ecocardiograma transtorácico: alterações segmentares apicais e septais. Posterior agravamento clínico com hipotensão sintomática não responsiva a fluídos, pelo que iniciou dopamina. Assumiu-se enfarte agudo do miocárdio sem supra-ST e realizou coronariografia que não revelou doença coronária.
Foi admitida na Unidade de Cuidados Intensivos (UCI) por choque cardiogénico de etiologia ainda não esclarecida. À entrada, apresentando score ainda preservado, confirmou síndrome gripal recente durante a exploração anamnésica. A avaliação ecocardiográfica logo à entrada na UCI revelou dilatação e depressão global da função sistólica biventricular graves e a existência de derrame pericárdico de pequeno volume mas com sinais de compromisso diastólico das cavidades direitas. Realizou-se pericardiocentese com saída de 15cc de líquido citrino, constatando-se melhoria transitória do perfil tensional. Manteve deterioração clínica e hemodinâmica refratárias ao aumento do suporte inotrópico, sendo proposta precocemente para ECMO-VA (Extra Corporeal Membrane Oxygenation Veno-Arterial). Após 12 dias de suporte mecânico, e perante a recuperação da função bi-ventricular, foi descanulada com sucesso. Já na enfermaria por padrão de pneumonite infecciosa e serologia a Borrelia IgM positiva, realizou terapêutica com ceftriaxone, com boa resposta. Do restante estudo etiológico, a biópsia do miocárdio foi inconclusiva e a pesquisa de vírus cardiotrópicos, serologias virais, hemoculturas e exame anatomopatológico do derrame pericárdico foram negativos.
Os autores apresentam o caso pela sua apresentação atípica e rápida detioração clínica e hemodinâmica, destacando o papel da anamnese detalhada na obtenção do diagnóstico, e da identificação precoce de choque cardiogénico grave refratário como medida essencial de referenciação célere e atempada para suporte mecânico de bomba, possibilitando a sobrevida nestes casos.