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CANDIDÉMIA NO ADULTO: REALIDADE DE UM HOSPITAL DISTRITAL
Doenças infeciosas e parasitárias - E-Poster
Congresso ID: P495 - Resumo ID: 310
Hospital de Cascais
Antonio Costa Carneiro, Madalena Silva, Isa Silva, Ines Nabais, Filipa Taborda, Luis Pereira, Magda Faria, Ana Boquinhas
A candidémia é uma infecção grave com elevada mortalidade, superior a 60% se permanecer por tratar (30-40% quando tratada), cuja incidência tem aumentado progressivamente nos últimos anos, sobretudo enquanto infecção nosocomial em Unidades de Cuidados Intensivos e em doentes imunossuprimidos. Mais de 90% das infecções são devidas a C. albicans, C. glabrata, C. tropicalis, C. parapsilosis e C. krusei. O tratamento de 1ª linha inclui uma equinocandina, embora possa ser instituído fluconazol no doente estável e em caso de baixa probabilidade de resistência a este agente. Devem ser realizadas hemoculturas seriadas e a terapêutica deve ser continuada até 14 dias após a negativação. Todos os doentes devem ser observados por um Oftalmologista para excluir endoftalmite.

O objectivo desta investivação foi apurar a frequência de candidémia no nosso hospital e características da população identificada; para tal, foi feita uma análise retrospectiva de todos os doentes com isolamento em (pelo menos uma) hemocultura de microrganismos pertencentes à espécie Candida, entre 2015 e 2018.

Durante o período estipulado, foram registados 28 casos de candidémia: 54% eram do sexo feminino, com idade mediana de 78 anos (intervalo 46-90 anos). Os departamentos nos quais foram obtidos estes isolamentos foram: Unidade de Cuidados Intensivos (46%), Medicina Interna (36%), Cirurgia Geral (11%), Ortopedia (3.5%) e Serviço de Urgência Geral (3.5%). Os agentes isolados foram C. albicans (61%), C. glabrata (28%), C. krusei (4%) e C. tropicalis (7%). Foi instituído antifúngico em 71% dos casos com anidulafungina (15%), fluconazol (70%), anfotericina B (10%) e voriconazol (5%). Em nenhum dos casos foram realizadas hemoculturas seriadas. A mediana de duração de terapêutica foi 14 dias. Da análise do risco prévio para candidémia, refere-se que: em 7% dos doentes foi instituída nutrição parentérica previamente ao quadro infeccioso; 57% dos doentes tinha um cateter venoso central, que foi removido após o isolamento; não foi realizado estudo de colonização multifocal; 78% dos doentes apresentou-se com critérios de sépsis; 32% dos doentes tinha sido submetido a uma intervenção cirúrgica. Apenas 18% dos doentes foram observados por um Oftalmologista, não tendo sido registado nenhum caso de endoftalmite. A taxa de mortalidade foi significativa: 64% dos doentes vieram a falecer, com uma mediana de sobrevida de 10 dias após o isolamento microbiológico.

Os resultados apresentados revelam que a abordagem da candidémia no nosso hospital carece de optimização, nomeadamente, em termos de gestão de risco (estudo de colonização), estratégia antimicrobiana (prescrição minoritária de equinocandina), controlo de infecção (hemoculturas seriadas e exclusão de endoftalmite), de forma a reduzir a taxa de mortalidade associada ao quadro infecioso (significativamente superior ao registado na literatura). Do ponto de vista epidemiológico, os resultados foram concordantes com a literatura disponível.