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ARTERITE DE CÉLULAS GIGANTES: RETRATO DE UM HOSPITAL DISTRITAL
Doenças autoimunes, reumatológicas e vasculites - E-Poster
Congresso ID: P039 - Resumo ID: 311
Hospital de Cascais
Antonio Costa Carneiro, Madalena Silva, Isa Silva, Ines Nabais, Filipa Taborda, Luis Pereira, Magda Faria, Ana Boquinhas
A arterite de células gigantes (ACG) ou arterite temporal é uma vasculite de médios-grandes vasos, que representa a vasculopatia autoimune mais frequente e uma das principais responsáveis pela instituição de corticoterapia sistémica crónica. Algumas das suas principais manifestações são cefaleia, dor ao nível da artéria temporal, alteração da acuidade visual, claudicação da mandíbula, sintomas polimiálgicos e a febre baixa. O diagnóstico precoce é essencial de forma a prevenir as complicações associadas a isquémia crítica, sendo actualmente preconizados os critérios de classificação da American College of Rheumatology (ACR, 1990). A biópsia da artéria temporal permite confirmar o diagnóstico, embora com sensibilidade relativamente baixa, 15-40% (especificidade 100%). A corticoterapia sistémica continua a ser o tratamento de primeira linha.

O objectivo do presente trabalho foi apurar o número de doentes com diagnóstico de arterite de células gigantes entre 2010 e 2018, as suas características (clínicas e analíticas) à data do diagnóstico e a sua resposta à terapêutica instituída. Foi feita uma análise retrospectiva dos processos de todos os doentes submetidos a biópsia da artéria temporal.

Durante o período estipulado, foram diagnosticados 18 casos de ACG: 78% do sexo feminino, com uma mediana de idade de 78 anos. A biópsia da artéria temporal foi positiva em 67% dos doentes, sendo as manifestações mais frequentes: cefaleia (83%), astenia (67%), alteração visual súbita (56%), polimialgia reumáica (39%), claudicação da mandíbula (17%). Analiticamente, a mediana da velocidade de sedimentação foi 100 mm/hora, 72% dos doentes apresentava anemia, 11% hipergamaglobulinémia e 28% alteração das provas hepáticas. Apenas 11% dos doentes tinha diagnóstico concomitante de neoplasia (mama e linfoma). Em 100% dos casos foi instituída prednisolona 1 mg/kg/dia, imediatamente após suspeita deste diagnóstico, com excelente resposta. Em nenhum dos casos foi instituída anti-agregação, inibidor da bomba de protões ou bifosfonato. Em 33% dos doentes foram registadas complicações relacionadas com a corticoterapia, nomeadamente, diabetes e infecções. Relativamente aos doentes com biópsia negativa (33%), foi considerado que o diagnóstico seria muito provável dadas as manifestações clínicas e analíticas sugestivas, com um score ACR superior ou igual a 3.

As características dos doentes analisados são concordantes com o descrito na literatura e esta avaliação permite verificar que a abordagem do doente com suspeita e, posterior confirmação, de ACG foi adequada, em termos de escolha de imunossupressor e timing da sua administração. Contudo, permanecem por optimizar algumas atitudes, nomeadamente em relação à antiagregação e prevenção ou tratamento da osteoporose. Adicionalmente, nos doentes com biópsia negativa, seria benéfica a caracterização imagiológica com estudo Doppler, que não foi realizada e nenhum destes casos.