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MENINGOCEREBRITE PNEUMOCÓCICA, UMA COMPLICAÇÃO RARA
Doenças infeciosas e parasitárias - E-Poster
Congresso ID: P496 - Resumo ID: 319
Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro, Hospital de São Pedro Vila Real
Rita Queirós, Rafael Jesus, Andreia Matas, Ana Graça Velon, Andreia Veiga
INTRODUÇÃO:
Cerebrite, uma inflamação localizada do parênquima cerebral, corresponde à fase inicial de formação de um abcesso cerebral, sendo raramente visualizada em exames de imagem. Um abcesso cerebral causado por Streptococcus pneumoniae está comumente associado a um foco de infeção contíguo como otite média, sinusite e mastoidite. No entanto, também pode ser uma complicação extremamente rara da meningite pneumocócica, representando menos de 1% dos casos. Estão descritas taxas de mortalidade de 35% e 40% dos sobreviventes apresentam défices neurológicos sequelares.

CASO CLÍNICO:
Mulher de 68 anos, com antecedentes de diabetes mellitus tipo 2, que recorreu ao Serviço de Urgência por síndrome confusional agudo associado a diminuição de força dos membros direitos de instalação súbita. Apresentava história de otalgias e tonturas nas últimas semanas e um episódio de otorreia purulenta do ouvido esquerdo na semana anterior.
À admissão estava febril, sem outras alterações ao exame geral. Ao exame neurológico estava de olhos espontaneamente abertos mas em mutismo associado a uma hemiparésia direita. Analiticamente constatou-se leucocitose e elevação da proteína C reativa. O exame sumário de urina era inocente, a radiografia de tórax não tinha alterações e a tomografia computorizada cranioencefálica (TC-CE) excluiu lesões hemorrágicas ou isquémicas recentes. Efetuou-se punção lombar que foi compatível com reação meníngea e após colheita de rastreio séptico iniciou empiricamente ceftriaxone e ampicilina.
Posteriormente, repetiu TC-CE que demonstrou hipodensidade occipito-temporal esquerda sem território vascular definido e foi isolado um Streptococcus pneumoniae no líquido cefalorraquidiano. A ressonância magnética cranioencefálica mostrou um hipersinal corticosubcortical temporo-parietal esquerdo na ponderação T2 sem tradução em T1 correspondendo a área de cerebrite e hipersinal em T2 nas mucosas das cavidades perinasais, ouvidos médios e mastóides. Estabeleceu-se o diagnóstico de meningocerebrite pneumocócica secundária a otite média aguda e manteve antibioterapia com ceftriaxone durante 3 semanas.
Evoluiu com recuperação integral dos défices neurológicos.

DISCUSSÃO:
A incidência de infeções pneumocócicas invasivas diminuiu desde o advento dos antibióticos e vacinas. No entanto, com o aumento da população cronicamente doente, debilitada e com exposição frequente aos cuidados de saúde à qual se soma a crescente incidência de resistência aos antibióticos, é previsível o aumento de número de casos de doença pneumocócica invasiva (DPI) no futuro.
Os autores descrevem este caso pela sua raridade e pela eficácia da antibioterapia com evolução clínica favorável e sem sequelas. Simultaneamente alertam para a necessidade de pensar na DPI como uma importante causa de morbilidade e mortalidade em imunocompetentes nesta época de um diferente paradigma.