PERICARDITE PURULENTA A ACTINOMYCES
Doenças cardiovasculares - E-Poster
Congresso ID: P163 - Resumo ID: 322
Unidade Local de Saúde do Nordeste, Centro Hospitalar de Trás-os-montes e Alto Douro
Maria Castro, Sara Borges, Pedro Carvalho, Márcia Souto, José Monteiro, Fernando Gonçalves,José Guimarães, Miguel Móz, Filipa Cordeiro, José Moreira
Introdução
A pericardite purulenta (PP) é atualmente uma complicação rara e define-se como uma infecção localizada no espaço pericárdico que produz um líquido purulento. A suspeita desta entidade é indicação para pericardiocentese emergente, tendo o líquido pericárdico características bioquímicas de exsudado, devendo ser sujeito a exame microscópico direto e cultural. O tratamento consiste na drenagem do líquido pericárdico e antibioterapia sistémica.
Caso clínico
Doente de 42 anos com antecedentes de Síndrome de Eisenmenger por comunicação interventricular não intervencionada. Enviado ao Serviço de Urgência por agravamento do padrão habitual de dispneia, astenia, diminuição do débito urinário e febre com cerca de uma semana de evolução. Encontrava-se desidratado e com dentição em mau estado. Apresentava hipocratismo digital, estava taquicardico e saturava a 80% em ar ambiente. Na auscultação cardíaca S1 normal e S2 aumentado com sopro de ejeção II/VI. Analiticamente salientava-se elevação de transaminases e dos parâmetros inflamatórios. Realizada TAC torácica que mostrou derrame pericárdico de grande volume. O ECG mostrava taquicardia auricular e alternância do eixo elétrico. Efetuado ecocardiograma transtorácio (ECO-TT) que confirmou derrame pericárdico de grande volume com swinging heart. Decidido prosseguir imediatamente para pericardiocentese evacuadora, com drenagem de líquido pericárdico de aspeto purulento com características de exsudado. Após discussão com a cirurgia cardíaca, foi protelada a realização de janela pericárdica pelo alto risco cirúrgico deste doente com Síndrome de Eisenmenger. Iniciada antibioterapia empírica e posteriormente realizada antibioterapia dirigida com benzilpenicilina endovenosa, após o isolamento de Actinomyces no líquido pericárdico.
Verificou-se uma evolução inicial favorável, sem evidência de outro foco infecioso, com parâmetros analíticos em decrescendo e evolução em apirexia. Após 15 dias de internamento evoluiu com agravamento da insuficiência cardíaca. Repetido ECO TT que revelou derrame pericárdico organizado, com septal bounce, padrão restritivo de enchimento do ventrículo esquerdo e variação do fluxo transmitral significativa – sugestivo de pericardite constritiva. Contactada novamente a Cirurgia Cardíaca para a realização de pericardiectomia, tendo sido recusado pelo alto risco cirúrgico, vindo a falecer posteriormente.
Conclusões
Este caso clínico demonstra uma causa rara de tamponamento cardíaco, num doente com S. De Eisenmenger e risco cirúrgico muito elevado que condicionou a abordagem terapêutica. O tratamento da PP inclui a drenagem completa do líquido pericárdico, sendo que a pericariocentese é muitas vezes insuficiente e havendo frequentemente necessidade de drenagem cirúrgica. Tal como ocorreu no presente caso, a evolução para pericardite constritiva é frequente nesta entidade, sobretudo quando não existe uma remoção efectiva e cirúrgica do líquido purulento.