Introdução: O quilotórax é causado pela disrupção/obstrução do ducto torácico ou das suas tributárias resultando em perda de quilo para o espaço pleural. É uma condição rara que se divide em causas traumáticas (mais frequentes) e não traumáticas. A causa não traumática mais comum é o linfoma.
Caso clínico: Em Julho de 2018 um homem de 62 anos, nacionalidade Portuguesa e a residir na ilha do Príncipe, apresentou-se no serviço de urgência encaminhado do Hospital de São Tomé e Príncipe por derrame pleural esquerdo. Referia dispneia e cansaço para pequenos esforços, com 1 mês de evolução. Mencionava sudação profusa, dor torácica esquerda e tosse quando se baixava. Negava febre, perda de peso ou outros sintomas constitucionais. Apresentava antecedentes de hipertensão, dislipidemia e malária. Ao exame físico identificava-se ausência de murmúrio nos ¾ inferiores do hemitórax esquerdo e macicez à percussão. Realizou radiografia de tórax que confirmou a presença de um derrame pleural esquerdo e foi submetido a TAC que revelou “adenomegalias axilares esquerdas e uma massa com densidade de partes moles pré-vertebral envolvendo a aorta descendente desde o nível da carina e estendendo-se inferiormente em topografia retrocrural até ao retroperitoneu”. O derrame foi drenado, tendo o líquido uma aparência leitosa, elevado conteúdo em triglicerídeos (1577 mg/dl), baixo em colesterol (<50mg/dl), linfocitose e ausência de células malignas. Posteriormente, foi internado para estudo. Na avaliação inicial realiza-se palpação ganglionar confirmando-se a presença de adenopatias supra e infradiafragmáticas, algumas das quais com >1cm e consistência dura. O estudo laboratorial não apresentava alterações e as serologias infecciosas eram negativas. A PET revelou “hipermetabolismo glicolítico intenso em adenopatias supra e infradiafragmáticas, que se relacionam muito provavelmente com doença linfoproliferativa metabolicamente activa”. Realizou biópsia de adenopatia inguinal que confirmou, mais tarde, a presença de Linfoma Não-Hodgkin – Folicular tipo 2, FLIPI 3 (alto risco). A biópsia medular foi negativa. No internamento iniciou um ciclo curto de 3 dias de prednisolona 100mg, com melhoria significativa do derrame pleural. Foi orientado para consulta externa de hemato-oncologia onde iniciou tratamento com esquema R-CHOP. Em Setembro de 2018 foi documentada a remissão imagiológica através de PET (“Estudo tradutor de boa resposta ao tratamento em curso sem evidência de patologia linfomatosa hipermetabólica em actividade”).
Discussão: Cerca de 20% dos linfomas apresentam-se com derrame pleural, que é raramente um quilotórax. Apresenta-se este caso pela singularidade da apresentação clínica e imagiológica e pelo sucesso da orientação interdisciplinar que permitiu o diagnóstico e tratamento precoces, com remissão clínica e imagiológica.