Ana Silva Rocha, Filipa Leal, Isabel Cruz, Marta Dalila Martins, Marina Henriques Mendes, Anabela Silva, Vítor Fagundes, André Paupério, Juliana Lopes, Luís Nogueira, Mari Mesquita
INTRODUÇÃO: A hipertensão arterial (HTA) é o fator de risco modificável mais prevalente no AVC isquémico. A pressão de pulso (PP) é definida pela diferença entre a pressão arterial sistólica (PAs) e a pressão arterial diastólica (PAd). A PP tende a aumentar com a idade e é um marcador indireto de rigidez arterial, resultando do aumento da PAs e diminuição da PAd. A PP parece ser um marcador de lesão vascular.
OBJETIVO: O estudo teve como objetivo avaliar se a PP nos primeiros três dias de internamento, após um AVC isquémico, pode ser um factor independente de prognóstico.
MATERIAL E MÉTODOS: Estudo observacional retrospetivo. Foram recolhidos dados do processo clínico dos doentes internados numa Unidade de AVC no ano de 2017 com o diagnóstico de AVC isquémico.
Foram analisadas: características demográficas, fatores de risco vascular (FRV), status funcional prévio e à data de alta segundo a escala mRankin, NIH Stroke Scale (NIHSS) à admissão, classificação do AVC segundo a escala de Oxfordshire Community Stroke Project (OCSP), duração do internamento e mortalidade intra-hospitalar. Avaliados os registos de PA de 2 medições diárias, durante os 3 primeiros dias de internamento. Foram calculados os valores médios de PAs, PAd e PP. Excluídos os doentes com internamento inferior a 3 dias ou transferidos de outro hospital.
RESULTADOS: Total de 189 doentes, 56,1% do sexo masculino e 43,9% do sexo feminino. Idade média foi de 66,412,1 anos.
A HTA estava presente em 74,6% dos doentes. O NIHSS à admissão variou entre 0 e 28 e o mRankin prévio entre 0 e 4. A duração média de internamento foi de 17,915,0 dias. A taxa de mortalidade intra-hospitalar foi de 3,0%. Dos doentes observados, 20,1% foram submetidos a trombólise e 13,2% a trombectomia, apresentando 12,2% transformação hemorrágica.
A PP média global aumentou com a idade (p<0,001), com a presença de HTA (p<0,001) e com a presença de diabetes mellitus (DM) (p<0,001), não apresentando relação com outros FRV.
Verificou-se que o mRankin prévio se relacionou com a PP média global (p=0,031) e com a PAd média global (p=0.015). A PAd média global apresentou uma correlação com o NIHSS (p=0,002) tal como a PP média global quando ajustada para idade (p=0,011).
Verificou-se que a PP média global apresentou uma relação estatisticamente significativa com o mRankin à data de alta (p<0,001) que se manteve quando ajustada para sexo, idade, mRankin prévio e FRV (p=0,007; OR 0,413 – 2,54). Os doentes com maior PP média global têm maior probabilidade de à data da alta apresentar mRankin > 3 (p=0,005). Os doentes falecidos apresentaram PP média no 1º dia de internamento superior (p=0,04).
CONCLUSÃO: Neste estudo verificou-se uma relação entre a PP média global, idade, presença de HTA e DM. A PP média global revelou-se um marcador de prognóstico independente, relacionando-se com o estado funcional à data da alta.
A PP média no 1º dia de internamento apresentou-se como marcador de mortalidade intra-hospitalar.