Priscila Melo, Raquel Dourado, Luís Dias, David Silva, Rui Quintanilha
Os autores apresentam o caso clinico de um jovem de 18 anos, referenciado à consulta de cardiologia para esclarecimento de dor torácica. Havia sido observado, cerca de um mês antes no Serviço de Urgência (SU) altura em que já apresentava alterações suspeitas.
Doente sem fatores de risco para doença cardiovascular, atleta de alta competição, referia quadro, com 3 meses de evolução, de dor no hemotórax esquerdo, pleurítica, tipo pontada, esporádica, sem associação com o esforço, sem irradiação, sem sintomas acompanhantes, sem posição antiálgica, com duração de 5 minutos. Referia palpitações regulares e rápidas, sem sincope. Apresentava, ainda, cansaço para médios esforços, com 1 mês de evolução, sem ortopneia, DPN ou edema dos membros inferiores. Fez referência a episódios, autolimitados, de edema da face, pescoço e membro superior esquerdo. Negava outros sintomas constitucionais.
Havia recorrido ao SU, 4 semanas antes, pelo mesmo quadro.
No dia da consulta mantinha as mesmas queixas, ao exame objetivo encontrava-se: vígil, orientado nas três esferas. Apirético. Eupneico em ar ambiente. Acianótico. Normotenso e normocárdico. Sem alterações de relevo na avaliação cardiovascular. Durante a consulta foram revistos os exames realizados aquando da ida ao SU. Análises e ECG sem alterações relevantes. Radiografia do tórax com alargamento do mediastino aparente. Nesta consulta foram solicitadas novas análises, ecocardiograma, angioTC cardíaca e holter de 24h. No ecocardiograma transtorácico: volumoso derrame pleural. Face a estas imagens, fez radiografia de tórax urgente com volumoso derrame pleural esquerdo; tendo sido melhor caracterizado por TC Tórax e Abdómen: sugerindo processo de malignidade com disseminação para várias estruturas. As manifestações sugerem linfoma com envolvimento acima e abaixo do diafragma.
O doente foi referenciado à medicina interna que realizou toracocentese, com exame cultural e citológico do liquido pleural, não tendo sido identificadas células neoplásicas. Foi submetido a biópsia excisional de gânglio da região cervical esquerda, cujo resultado anatomopatológico foi sugestivo de Linfoma T. Sob orientação da hemato oncologia iniciou estadiamento do linfoma com referenciação do doente para o IPO Lisboa, onde se encontra sob tratamento oncológico.
Este caso realça a importância da colheita da história clínica e observação dos exames complementares, tendo em conta que um mês antes o doente já apresentava alterações que faziam pensar numa etiologia neoplásica. Por outro lado, numa época em que existem cada vez mais e melhores, métodos de imagem ao dispor da medicina, a radiografia de tórax destaca-se na avaliação inicial de dor torácica.
Este doente espelha um caso de “livro”, embora raro, onde o linfoma T, consta de 7.6% dos linfomas não Hodgkin. É mais frequente em homens jovens, manifesta-se em forma de grande massa mediastínica e derrame pleural, tendo um prognóstico variável.