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APRESENTAÇÃO EXUBERANTE DE DOENÇA DE LYME – RELATO DE CASO CLÍNICO
Doenças infeciosas e parasitárias - E-Poster
Congresso ID: P554 - Resumo ID: 362
Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra
Helena Rodrigues, Regina Costa, Rogério Ferreira, Lèlita Santos, Armando Carvalho
Introdução:
A doença de Lyme, ou borreliose, é uma doença infeciosa causada por espiroquetas do género Borrelia, que é transmitida pela carraça do complexo Ixodes. É uma doença sistémica, cuja evolução clínica se divide em três fases: fase 1 (infeção localizada) caracterizada pelo eritema migrans e síndrome pseudogripal; fase 2 (infeção disseminada) com sintomas neurológicos, artrite migratória ou manifestações cardíacas; fase 3 (infecção persistente) caracterizada por artrite crónica e envolvimento do SNC. O diagnóstico é clínico, sendo confirmado por testes serológicos. O tratamento de escolha é doxiciclina para a fase inicial e ceftriaxone para a doença disseminada.

Caso clínico:
Doente do sexo masculino, de 24 anos, recorreu ao Serviço de Urgência (SU) após episódio de sincope pós-prandial no domicílio, precedida por visão turva, parestesias das extremidades e sensação de diminuição de força nos membros inferiores. O doente foi socorrido pelos bombeiros que detetaram hipoglicemia (BMT 60mg/dL). À avaliação no SU o doente apresentava sensação subjetiva de hipertermia, com arrepios, queixas de cefaleia intensa, pulsátil, com foto e fonofobia, dor torácica pleurítica em ambos os campos pulmonares, mialgias e défice de sensibilidade e força nos membros inferiores. Houve recuperação total e espontânea da parésia ao fim de 3 horas. Este quadro foi precedido por mialgias, arrepios e dor generalizada com 5 dias de evolução. Após inquérito detalhado, o doente referiu que teria sido picado por uma carraça cerca de 5 dias antes da vinda ao SU.
Ao exame objetivo apresentava febre (temperatura auricular de 39,3ºC), conjuntivas hiperemiadas e défice de força (G3) nos membros inferiores. Não foi objetivado eritema ou outra alteração.
Apresentava leucocitose (17.8x109/L) com neutrofilia (94,8%), PCR de 0,53 mg/mL e aumento de CK (1007 U/L). A radiografia do tórax evidenciava hipotransparência peri-hilar. Foram realizadas serologias e iniciada antibioterapia com doxiciclina por suspeita de zoonose.
O doente ficou internado para vigilância clínica. Foi apurada história pregressa, na qual se destaca a prática de culturismo, com consumo de suplementos alimentares (Whey e BCAAs) e anabolizantes (Boldenona, Sustanon, nandrolona e hormona do crescimento).
A evolução foi favorável sob a antibioterapia prescrita, tendo sido confirmada a hipótese inicial de zoonose, com serologias positivas para Borrelia burgordferi.

Discussão:
Este caso ilustra uma evolução rápida e exuberante da doença de Lyme num doente com consumo de vários anabolizantes, corroborando o papel do abuso destas substâncias na diminuição da resposta do sistema imune perante uma infeção.