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SALMONELOSE CRÓNICA
Doenças infeciosas e parasitárias - Poster com Apresentação
Congresso ID: PO038 - Resumo ID: 377
Hospital de Cascais
Filipa Lucas, Tatiana Oliveira, Ana Teresa Boquinhas
A Salmonella enterica pertence à família das Enterobacteriaceae. Possuí alta virulência e baixa patogenicidade o que explica a existência de portadores. É um dos causadores de gastroenterite aguda, associada a diarreia inflamatória, sendo os serótipos mais comuns o Thyphimurium e o Enteritidis. As salmonelonoses não tifoides parecem causar cada vez mais bacteriemias não reconhecidas. Este caso clínico aborda um exemplo de bacteriemia em portador crónico de Salmonella Thyphimurium.
Apresentamos um homem caucasiano de 61 anos, medicado cronicamente com budesonida, azatioprina, tenofovir e ácido ursodesoxicólico. História médica conhecida de Leucemia aguda mieloblástica M4 com inv(16) diagnosticada em 2010, submetido a quimioterapia de indução e posterior alo-transplante de dador familiar e hipoesplenismo pós-doença do enxerto contra o hospedeiro hepática. Com internamento de 20/5 a 5/7/2018 por crise convulsiva parcial motora inaugural em contexto de lesões ocupantes de espaço hemisféricas documentadas por TC-CE, com diagnóstico posterior de abcessos cerebrais (documentados por RM-CE), sem identificação de agente (por provável ponto de partida odontogénico) cumprindo 7 semanas de ceftriaxone (mais duas semanas de metronidazol) com resposta clínica e laboratorial favoráveis. Com RM-CE de reavaliação (09/2018) com redução ligeira dimensional das lesões, sem edema ou realce. Recorre novamente à urgência a 09/2018 por quadro febril com tosse produtiva e dispneia com uma semana de evolução, tendo sido internado para estudo. Ao exame objetivo à admissão sem alterações de relevo. Do estudo complementar realizado destaque para aumento dos parâmetros inflamatórios, gasimetricamente em ar ambiente com hipoxemia (pO2 52mmHg; pH 7.55) e radiograma de tórax sem imagem sugestiva de condensação, assumindo-se uma traqueobronquite hipoxemiante nosocomial, iniciando piperacilina e tazobactam. Durante o internamento, com hemoculturas positivas para Salmonella typhimurium; urocutura positiva para Salmonella grupo B mutissensível; uma coprocultura positiva para Salmonella grupo B e serologias para Salmonelas typhi TO, TH, para-Typhi AH e BH negativos. Como diagnóstico final, assumiu-se bacteriemia a Salmonella typhimurium. O doente cumpriu 14 dias de cotrimoxazol oral e considerou-se foco prostático/nefro-urológico condicionando estado de portador urinário crónico de Salmonela com disseminações retrogradas intermitentes. Vai iniciar erradicação da salmonela com ciprofloxacina 500 mg 12/12 h durante 6 semanas.
O quadro de hipoesplenismo provavelmente será responsável pelos múltiplos episódios sépticos, dada Salmonela ser um agente capsulado (Antigénio VI).
Este exemplo reporta que poderão existir mais casos de portadores crónicos de Salmonela, sendo importante a sua irradicação e diagnóstico atempado com os meios complementares adequados dada a elevada probabilidade de bacteriemia associada. Será interessante existirem mais estudos relacionados com portadores crónicos.