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UM CASO DE ENDOCARDITE DA TRICÚSPIDE
Doenças cardiovasculares - E-Poster
Congresso ID: P195 - Resumo ID: 379
Hospital de Cascais
Filipa Lucas, Tatiana Oliveira, Ana Teresa Boquinhas
A endocardite infeciosa (EI) tem alta morbi-mortalidade e é mais frequente no lado esquerdo do coração. A endocardite direita corresponde a 5-10% do número total de casos e envolve predominantemente a válvula tricúspide. Os critérios de Duke modificados devem ser usados no diagnóstico, mas parecem ter menos sensibilidade e especificidade do que na endocardite esquerda. O microrganismo isolado mais comum é o Staphylococcus aureus (50-80%). O prognóstico é favorável, no entanto, há aumento da mortalidade por insuficiência pulmonar ou por síndrome de dificuldade respiratória aguda (SDRA). A “ síndrome tricúspide” caracterizada por eventos pulmonares, anemia e hematuria microscópica é praticamente patognomónica de endocardite infeciosa da tricúspide (EIVT).
Este caso clínico relata um exemplo raro de endocardite da válvula tricuspide nativa.
Apresentamos um homem caucasiano de 72 anos, com história médica de insuficiência cardíaca, hipertensão arterial, dislipidemia e diabetes mellitus tipo 2 não insulino-tratada e sem hábitos toxifílicos. Esteve internado de 25/09 a 12/12/2018 por queixas de cansaço compatível com classe II NYHA e mal-estar inespecífico precordial não relacionado com esforços e febre. Do estudo complementar realizado, destaque para, ecocardiograma trans-torácico (ETT) a revelar “imagem móvel, aparentemente apensa ao folheto septal da válvula tricúspide, com cerca de 11x6 mm de dimensão, sugestiva de vegetação; jacto ligeiro de insuficiência tricúspide; gradiente (VD/AD) de 30mmHg” e parâmetros inflamatórios em rampa ascendente (PCR máxima de 16 mg/dL), radiografia de tórax com pequena hipotransparência para-hilar esquerda. Assumiu-se Endocardite de válvula tricúspide nativa no contexto de sépsis com ponto de partida respiratório (a pneumonia nosocomial com insuficiência respiratória tipo 1). Teve isolamento em hemoculturas de Staphylococcus aureus, cumprindo 14 dias de piperacilina-tazobactam e após resultado definitivo de hemoculturas, fez flucloxacilina durante 6 semanas. Como intercorrência, a referir vários episódios de descompensação respiratória, com tromboembolismo pulmonar subsegmentar, assumindo-se embolização séptica. Por melhoria clínica e analítica teve alta para consulta externa.
Repetiu ETT pós-alta, a qual revelou imagem de vegetação na válvula tricúspide, sendo pedida PET corporal para exclusão de atividade in situ e sistémica, que aguarda.
A EIVT corresponde a 2.5-3.1% de todos os casos de EI e raramente é diagnosticada em doentes sem história de drogas endovenosas.
Em suma, a EIVT é um evento cardíaco incomum e em particular, em doentes com história de drogas endovenosas, mimetizando o tromboembolismo pulmonar, a pneumonite de hipersensibilidade ou os síndromes coronários agudos. O ETT tem o mesmo valor diagnóstico que o trans-esofágico. Além disso e segundo Shi-Min Yuang, parece existir uma maior alteração da funcionalidade valvular versus estrutural o que compromete o tratamento médico-cirúrgico.