Mariana Almeida, Francisco Gomes, Carina Ramalho, Maria do Rosário Ginga, Fátima Campante
O presente caso clínico descreve um doente do sexo masculino, 71 anos, com antecedentes pessoais de Hipertensão Arterial e catarata do olho esquerdo, com seguimento em Consulta de Oftalmologia. Em Julho de 2018, em seguimento em consulta, o doente referiu protusão do olho direito, iniciada em Abril desse mesmo ano. Nesse contexto, foi requerida TC das órbitas, que descreveu “massas intra-orbitárias bilaterais”, razão pela qual foi encaminhado para CE de Medicina Interna, em Agosto de 2018. Em consulta, apresentava, ao exame objectivo, diminuição da acuidade visual do olho esquerdo em provável contexto de catarata, proptose do olho direito, limitação dos movimentos oculares e posição compensatória da cabeça, com inclinação para a esquerda. Negou outra sintomatologia, nomeadamente febre, sudorese, perda de peso ou infecções recorrentes/complicadas. Foi requerida avaliação analítica, a destacar apenas trombocitopenia ligeira, com contagem de plaquetas de 140.000 u/L. As serologias foram negativas, com beta2-microglobulina, LDH e provas de função tiróideia dentro dos valores de referência. Realizou TC-TAP e biópsia de medula óssea que excluíram envolvimento sistémico.
No fim de Agosto de 2018, foi internado por AVC isquémico vertebro-basilar, ficando com estrabismo externo esquerdo e diplopia sequelares.
O doente foi referenciado para CE de Neuroftalmologia, onde realizou RMN orbitária, que descreveu “tumefacção do ventre do músculo recto inferior à direita, com diâmetros de 18x14 mm, com proeminência da gordura palpebral. Proptose orbitária direita. À esquerda, com neoformação adjacente ao tecto orbitário.” Posteriormente, foi realizada biópsia do músculo recto inferior direito, com resultado positivo para Linfoma não Hodgkin B de baixo grau – linfoma da zona marginal de tipo MALT. Pelo facto de ser um linfoma orbitário bilateral e dada a história recente de AVC isquémico que contraindicava radioterapia local, o doente iniciou quimioterapia, cumprindo terapêutica com Rituximab, Ciclofosfamida, Vincristina e Prednisona. Pela associação da doença à infecção a Chlamydia psittaci, o doente cumpriu ciclo de antibioterapia com doxiciclina.
Actualmente, encontra-se a cumprir ciclo de quimioterapia, sem intercorrências a destacar.
O linfoma orbitário é raro mas constitui a neoplasia primária mais frequente da órbita.
A maioria dos linfomas orbitários são não Hodgkin e, dentro destes, os mais comuns são os linfomas MALT. A sintomatologia costuma ser inespecífica, com a presença de massa palpebral, proptose e infiltrado conjuntival salmon patch. O envolvimento bilateral ocorre em 10-20% dos casos. Geralmente são tumores indolentes, com bom prognóstico quando diagnosticados precocemente, sendo a radioterapia e a quimioterapia as principais armas terapêuticas.