O Hiperaldosteronismo primário (HAP) caracteriza-se por uma secreção inapropriada de aldosterona, autónoma dos mecanismos reguladores. A sua verdadeira prevalência é desconhecida, estimando-se que afete entre 5-10% dos pacientes com Hipertensão arterial (HTA) secundária, sendo uma patologia frequentemente subdiagnosticada. Atendendo que a sua apresentação clínica é variável, os autores apresentam dois casos muito distintos que reforçam a importância de um elevado índice de suspeição.
O primeiro caso refere-se a uma mulher de 56 anos de idade, com antecedentes de HTA diagnosticada aos 30 anos, referenciada à consulta de Medicina Interna por HTA resistente com hipocaliemia grave associada, de etiologia não esclarecida. Estudo complementar a confirmar suspeita diagnóstica de HAP, com tomografia computorizada (TC) e cintigrafia a definir etiologia em adenoma funcionante da supra-renal esquerda.
O segundo caso trata-se de uma mulher de 60 anos de idade, referenciada à consulta por HTA com lesão renal secundária. Neste contexto, foi integrado no estudo inicial ecografia renal que levantou suspeita de adenoma da supra-renal direita, confirmado posteriormente por TC. Restante estudo analítico a favor de diagnóstico de HAP, com concentração de aldosterona plasmática (PAC) >15 ng/dl, concentração de renina plasmática normal mas com razão PAC/atividade da renina >20. Diagnóstico confirmado com teste de infusão salina, com cintigrafia a confirmar unilateralidade.
Ambas as doentes foram propostas a terapêutica cirúrgica, de momento a aguardar respetivo procedimento.
Este diagnóstico assume particular importância não só pela sua prevalência e elevada morbi-mortalidade cardiovascular associada, mas também pelo potencial curativo do seu tratamento.