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UTILIZAÇÃO DE CARBOXIMALTOSE FÉRRICA ENDOVENOSA EM DOENTES COM INSUFICIÊNCIA CARDÍACA COM FRACÇÃO DE EJECÇÃO INTERMÉDIA E PRESERVADA
Doenças cardiovasculares - Comunicação
Congresso ID: CO109 - Resumo ID: 392
Serviço de Medicina Interna, Hospital da Luz - Lisboa, Lisboa, Portugal
André Rosa Alexandre, Jácome Morgado, Inês Rodrigues, Luís Landeiro, Vanessa Carvalho, Pedro Morais Sarmento
INTRODUÇÃO
A deficiência de ferro é prevalente nos doentes com insuficiência cardíaca (IC) independentemente da fracção de ejecção, agravando o seu prognóstico por limitar a capacidade funcional, deteriorar a qualidade de vida e aumentar a mortalidade. As guidelines actuais preconizam a identificação e correcção da ferropénia no tratamento dos doentes com IC com fracção de ejecção reduzida. No entanto, são desconhecidos os efeitos da sua correcção no contexto de IC com fração de ejecção intermédia (FEint) ou preservada (FEp).

OBJECTIVO
Caracterizar o impacto da correcção da ferropénia com carboximaltose férrica endovenosa (CMF) em doentes com IC FEint ou IC FEp sintomática.

MATERIAIS E MÉTODOS
Estudámos uma coorte retrospectiva de doentes submetidos a correcção de ferropénia absoluta (ferritina sérica <100 mcg/L) ou funcional (ferritina sérica 100-299mcg/L e saturação de transferrina <20%) com 1g de CMF através da consulta dos registos clínicos electrónicos do nosso Hospital de 2015 a 2018. Selecionámos para análise os doentes com IC FEint (40-49%) ou IC FEp (>=50%) sintomática, recolhendo dados demográficos, carga de co-morbilidades associadas, classe funcional da New York Heart Association (NYHA) e nível sérico de NTpro-BNP. Comparámos as variáveis referidas antes do tratamento e após 3 meses de seguimento com recurso aos testes t de Student e Mann-Whitney.

RESULTADOS
Identificámos 54 doentes com IC FEint ou IC FEp sintomática (NYHA>I) tratados com CMF. A idade média observada foi de 82,9 ± 7,1 anos, tendo predominado o género masculino (53,7%). As co-morbilidades mais frequentes foram a hipertensão arterial (69%), a doença renal crónica (67%) e a fibrilhação auricular (65%). A presença de cardiopatia isquémica foi identificada em 24% dos doentes. As neoplasias gastrointestinais e a doença péptica foram pouco prevalentes (15% e 11%, respectivamente). A medicação crónica com antiagregantes plaquetares e/ou anticoagulantes foi identificada em 90,7% dos doentes. A maioria dos doentes tinha ferropénia absoluta (83%), sendo 72,2% dos doentes anémicos com uma hemoglobina média de 11,0 ± 2,1 g/dL. A média do nível sérico de NTpro-BNP antes do tratamento com CMF foi de 6491 pg/mL, reduzindo para 5048 pg/mL três meses após o tratamento. Inicialmente 52% dos doentes encontravam-se em classe NYHA II, 44% em NYHA III e 4% em NYHA IV. Três meses após o tratamento com CMF identificámos 61% dos doentes em NYHA II e 39% em NYHA III. Estas tendências de redução no nível de NTpro-BNP (p=0,62) e da classe da NYHA (p=0,27) três meses após o tratamento não atingiram significância estatística.

CONCLUSÕES
As tendências de redução do nível de NTpro-BNP e melhoria da classe funcional da NYHA que identificámos neste estudo poderão indiciar um potencial benefício do tratamento da ferropénia com CMF nos doentes com IC FEint ou IC FEp. São necessários estudos prospectivos aleatorizados com seguimentos mais longos para esclarecimento definitivo desta questão.