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CISTITE ENFISEMATOSA – COMPLICAÇÃO RARA DE UMA INFEÇÃO COMUM
Doenças infeciosas e parasitárias - E-Poster
Congresso ID: P466 - Resumo ID: 393
Hospital do Divino Espírito Santo de Ponta Delgada - Serviço de Medicina Interna
Joana Castro, Diogo Bernardo Moura, Magda Sofia Ventura, Miriam Cimbron, Manuela Henriques, Humberto Costa, Paula Macedo
Cistite enfisematosa (CE) é uma rara complicação de infeções do trato urinário (ITU), caracterizada pela presença de ar na parede e lúmen vesicais. Afeta tipicamente mulheres com idade avançada, sendo a diabetes mellitus o principal fator de risco. Os microorganismos mais comumente envolvidos são a Escherichia coli e a Klebsiella pneumoniae. O diagnóstico exige realização de exame imagiológico, uma vez que a apresentação clínica é variável e inespecífica. No que ao tratamento diz respeito, a antibioterapia sistémica está recomendada em todos os casos, sendo a sua administração precoce o fator mais importante para reduzir potenciais complicações, verificando-se por vezes necessidade de intervenção cirúrgica.
Os autores apresentam um caso atípico de CE em doente não-diabética e sem anormalidade estrutural do trato urinário.
Trata-se de uma mulher de 74 anos, com antecedentes de hipertensão arterial, dislipidemia e doença renal crónica. Internada no serviço de Medicina Interna por sépsis com bacteriémia a Staphylococcus aureus meticilino-sensível com ponto de partida em celulite da perna esquerda e doença renal crónica agudizada, tendo sido algaliada no serviço de Urgência. Foi medicada com flucloxacilina de acordo com teste de sensibilidade aos antibióticos (TSA), inicialmente com evolução favorável, contudo posterior agravamento clínico com choque séptico e agravamento da função renal com acidémia metabólica. Excluída endocardite infeciosa por ecocardiograma transesofágico e realizada tomografia computorizada (TC) toraco-abdomino-pélvica para investigação de foco que evidenciou CE avançada com disseção das camadas musculares da parede abdominal anterior por gás, associada a Pielonefrite com Nefronia lobar à esquerda. Exames culturais de sangue e urina a isolar Klebsiella pneumoniae ESBL negativa, pelo que se associou empiricamente meropenem, com TSA a permitir posterior descalonamento para ceftriaxone. Necessidade de apoio de Medicina Intensiva para monitorização hemodinâmica, sem necessidade de suporte aminérgico. Rastreio séptico de controlo negativo, contudo reavaliação imagiológica por TC a revelar evolução para abcesso renal à esquerda, pelo que cumpriu antibioterapia dirigida prolongada (21 dias), com melhoria clínica, analítica e resolução imagiológica da CE e do abcesso renal, sem necessidade de abordagem cirúrgica.
Salienta-se a CE por se tratar de uma patologia rara que exige elevado índice de suspeição clínica, particularmente em doentes sem fatores de risco, assim como pela elevada morbi-mortalidade associada, que obriga a abordagem diagnóstica e início de terapêutica precoces.