PANCREATITE AGUDA EM CRÓNICA, COM PSEUDOCISTO PANCREÁTICO, COMPLICADA COM ROTURA DO BAÇO: RELATO DE UM CASO CLÍNICO.
Marta Vilaça, Lígia Freire, Marta Pina, Marina Morais, Carolina Guedes
A rotura atraumática do baço é uma complicação rara, mas potencialmente fatal, associada a pseudocisto pancreático (PP) em contexto de pancreatite crónica.
Homem de 47 anos, com história de consumo excessivo de álcool e pancreatite crónica, com pseudocisto pancreático, com agudizações recorrentes. Recorre ao serviço de urgência por dor abdominal difusa, com 4 dias de evolução, com irradiação para a região lombar tipo cinturão e ombro esquerdo. Analiticamente apenas de destacar PCR 140.9 mg/dL e amilase 739 U/L. Assim, foi internado no Serviço de Cirurgia com o diagnóstico de pancreatite crónica agudizada, com boa resposta clínica às medidas instituídas., com descida sustentada da amílase. 7 dias após a admissão hospitalar, com dor abdominal de novo no hipocôndrio esquerdo que irradiava para o ombro esquerdo, associada a queda progressiva da hemoglobina, com mínimo de 7,0g/dL, e a necessitar de suporte transfusional. Por esta razão, foi pedida uma tomografia computorizada abdomino-pélvica que mostrou baço com franca heterogeneidade textural, com áreas lineares hipodensas dispersas pelo seu parênquima, sugestivas de lacerações. Uma das lacerações estendia-se praticamente a toda a espessura do baço, com volumoso hematoma subcapsular esplénico, associado, que se continuava com hematoma posteriormente ao lobo esquerdo do fígado. Moderado hemoperitoneu pélvico. Negada história pregressa de traumatismo antes do internamento e no hospital. Decidida abordagem conservadora. Desta forma, foi admitido na Unidade de Cuidados Intermédios Polivalente para monitorização. Permaneceu hemodinamicamente estável com perfil tensional normotensivo, bom controlo da dor, sem queda significativa da hemoglobina. Por SIRS em crescendo e febre, assumida provável translocação bacteriana/hematoma infectado, pelo que iniciou empiricamente antibioterapia com cefotaxima e metronidazol. Colheu hemoculturas, mas sem isolamento de agente. Cumpriu 8 dias de antibiótico com boa resposta clínica e analítica. Repetiu TC de controlo que mostrou…
As complicações envolvendo o baço são considerados eventos raros no curso da pancreatite aguda e crónica, e podem manifestar-se de várias formas. Os hematomas subcapsulares e a rotura esplênica são as mais comuns na pancreatite crônica, enquanto os enfartes esplênicos e a hemorragia intra-esplénica ocorrem mais comummente na pancreatite aguda. A relação anatómica entre a cauda do pâncreas e o hilo esplênico parece ser o fator responsável por estas complicações. A admissão destes doentes em unidades de cuidados intermédios é importante dada gravidade clínica, com potencial agravamento, e necessidade de monitorização mais apertada.