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UM CASO RARO DE ERITEMA MULTIFORME INDUZIDO POR ALOPURINOL
Doenças autoimunes, reumatológicas e vasculites - E-Poster
Congresso ID: P073 - Resumo ID: 408
Hospital Santa Maria Maior - Barcelos
Cristiana Fernandes, Joana Esteves, Carolina Veiga, Sofia Barroso, Carlos Oliveira
O eritema multiforme (EM) é uma condição rara, imunologicamente mediada, considerada uma reacção de hipersensibilidade, que se manifesta por lesões cutâneas e/ou mucosas. Esta patologia pode ser induzida por inúmeros factores, como infecções (mais comum) ou por fármacos (<10% dos casos). As lesões em alvo são características desta doença, mas nem sempre estão presentes, sendo o seu espectro de apresentação muito variável. As alterações cutâneas geralmente começam por surgir nas extremidades extensoras acrais e podem progredir de forma centrípeta para outras áreas. O alopurinol, um inibidor da xantina oxidase, é o fármaco mais usado no tratamento e prevenção da hiperuricemia, sendo geralmente seguro e bem tolerado. Sintomas minor como prurido, rash e desconforto gastrointestinal podem acontecer em 10% dos doentes, mas sintomas graves são raros. Contudo, em doentes com doença renal pré-existente o alopurinol pode causar uma reacção de hipersensibilidade severa.

Homem, 72 anos, com diabetes mellitus tipo 2, hipertensão arterial e doença renal crónica estadio 2. Recorreu ao serviço de urgência por quadro de exantema maculopapular com algumas lesões erosivas, púrpuras e petéquias, desde há 2 meses. Terá sido medicado com inicialmente com ácido fusídico e fluconazol tópicos, sem melhoria; posteriormente com hidrocortisona tópica, com melhoria temporária. As lesões surgiram inicialmente nos pés, com progressão centrípeta, tendo na data de ida ao SU acometimento também dos membros superiores (com atingimento plantar e palmar) e da mucosa oral. Por altura da ida ao SU, além do exantema, tinha mau estar geral, cansaço, edema e dor nos membros inferiores. Duas semanas antes do início do quadro foi medicado com alopurinol 300 mg por hiperuricemia (já teria tomado este fármaco no passado, na dose de 100 mg). Do estudo analítico apenas a destacar velocidade de sedimentação aumentada e doença renal crónica agudizada. Realizou biopsia cutânea que revelou lesões de dermatite citotóxica com características de eritema multiforme. Após excluídas outras etiologias, assumiu-se EM induzido pelo alopurinol, tendo sido iniciada corticoterapia e interrompido o alopurinol com boa resposta clínica.

As erupções cutâneas tóxicas são efeitos adversos dos fármacos difíceis de prever pela farmacologia do medicamento. O seu risco depende de vários factores: idade, sexo e da dose do fármaco. Ao contrário do alopurinol, que é rapidamente excretado no rim, o oxipurinol (principal metabolito do alopurinol) é activamente reabsorvido na tubuladura renal, tendo uma elevada semivida. Na insuficiência renal este metabolito acumula-se, estando os seus níveis elevados associados a uma síndrome de toxicidade (geralmente sob a forma de vasculite mediada por uma reacção de hipersensibilidade). O tratamento passa pelo reconhecimento atempado da patologia e pela cessação do alopurinol. Associadamente, a corticoterapia é muitas vezes necessária, em especial na presença de doença multisistemica.