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SÍNDROME COMPARTIMENTAL ABDOMINAL – DIAGNÓSTICO INESPERADO NO ESTUDO DE DOR ABDOMINAL
Doenças digestivas e pancreáticas - E-Poster
Congresso ID: P236 - Resumo ID: 412
Hospital do Divino Espírito Santo de Ponta Delgada, EPE.
Isabel Borges, Madalena Meneses, Clara Paiva
A Síndrome Compartimental Abdominal (SCA) decorre da hipertensão abdominal persistente, acima dos 20mmHg. Cursa com disfunção multiorgânica (DMO) e o diagnóstico presuntivo é complexo, pois é frequente a clínica sobrepor-se à evolução desfavorável da doença inicial. A obstrução intestinal por retenção da cápsula endoscópica (CE), definida por impactação superior a 15 dias, é fator de risco conhecido (1.4%). Descreve-se o caso de um homem de 52 anos, seguido em consulta pós-internamento por dor abdominal e anemia em estudo, associado a anorexia e perda de peso involuntária. Do estudo realizado, em conjunto com a Gastrenterologia, foi excluída causa infecciosa. Realizou TC abdómino-pélvico (TC-AP), após administração de contraste oral, com achados sugestivos de processo inflamatório nas ansas do delgado; endoscopia digestiva alta sem evidência de achados relevantes; colonoscopia com introdução do colonoscópio até aos 20 cm da margem anal sem progressão por dor/má preparação, sem evidência de alterações da mucosa, mas com aparente fixação da sigmoideia. Por colonoscopia inconclusiva, realizou CE que revelou múltiplas úlceras no jejuno. Não foram transmitidas imagens do cólon pela CE, pelo que o doente foi referenciado, ao 10º dia após o procedimento, ao Serviço de Urgência. Mantinha clínica de anorexia e dor abdominal, mas sem agravamento do padrão. Analiticamente com marcadores de inflamação persistentemente elevados. Realizou radiografia (RX) do abdómen, sem evidência de CE. Ao 34º dia após ingestão da CE, foi observado em consulta e admitido, diretamente no internamento, por perda ponderal acentuada (IMC 18.3 > 14.7 kg/m2), dor não controlada e ausência de via oral por vómitos. Do estudo analítico, a destacar hemoglobina 9.6g/dl, plaquetas 719.000uL, velocidade de sedimentação 65mm/h, albumina 1.5g/dl e calprotectina fecal elevada. Iniciou corticoterapia oral, assumindo-se Doença Inflamatória Intestinal (DII). Ao 3º dia de internamento, o doente iniciou quadro súbito de dor abdominal intensa e insuficiência respiratória. Objetivamente com ventre em tábua e sinais de choque séptico. RX de abdómen com evidência de pneumoperitoneu e TC-AP com achados a favor de perfuração de víscera oca e SCA, subsequente a CE no íleo. Foi submetido a laparotomia exploradora, enterectomia segmentar e ileostomia terminal. Contudo, o doente faleceu 7 horas após a intervenção cirúrgica. A biópsia intestinal revelou área extensa de necrose com envolvimento da muscular própria e peritonite fibrinopurulenta.
A retenção da CE está descrita em 35.3% na DII e cursa com sintomas em menos de 2% dos casos. Nestes doentes e na presença de dor abdominal, deverá ser excluída obstrução intestinal. Na vigência de DMO súbita, a SCA é um diagnóstico plausível, cuja mortalidade ronda os 40-100%. O presente caso visa enaltecer a importância do seguimento próximo dos doentes submetidos a CE, sobretudo quando há doença intestinal suspeita ou estabelecida e se desconhece a sua eliminação.