Penélope Almeida, Marli Ferreira, Inês Ferreira, Ernestina Reis, João Araújo Correia
Introdução: Na era dos microrganismos multirresistentes, para os quais as opções terapêuticas escasseiam, é urgente o alerta para boas práticas de antibioterapia, dado o grande impacto na morbimortalidade e nos custos para os sistemas de saúde.
Objetivos: Rever a antibioterapia utilizada no doente internado, para promoção da melhor prática clínica.
Material e métodos: Auditoria realizada durante 10 semanas, incluindo os doentes internados em duas unidades do Serviço de Medicina Interna de um Centro Hospitalar Universitário. Apuraram-se dados demográficos, índices de Karnofsky e Charlson, diagnósticos de infeção, se fora realizada colheita de produtos microbiológicos, quais esses produtos, os isolamentos obtidos e a antibioterapia usada. As infeções foram classificadas conforme o foco e a tipologia: adquiridas na comunidade, associadas aos cuidados de saúde (IACS, na presença de internamento de duração superior a 48h nos 90 dias prévios à admissão ou em doentes residentes em lar ou unidade de cuidados continuados), individualizando-se as infeções nosocomiais (adquiridas 48h após a admissão).
Resultados: Avaliaram-se 204 episódios de internamento, de 199 doentes. Verificou-se proporção M:F = 1:1, média de idades de 75 anos, Karnofsky mediano de 60 e índice de Charlson médio de 6. Contaram-se 273 infeções, das quais 51% da comunidade, 18% IACS e 31% nosocomiais.
Quanto à antibioterapia empírica: nas infeções da comunidade destacou-se o uso de aminopenincilinas em 60%, cefalosporinas de 3ª geração em 11% e quinolonas em 11%. Nas IACS, utilizaram-se penicilinas antipseudomónicas em 39% e cefalosporinas de 3ª geração em 14%. O uso de carbapenemos ultrapassou os 6%, bem como o de glicopéptidos. Nas infeções nosocomiais, a utilização de penicilinas antipseudomónicas e de glicopéptidos manteve-se, observando-se uso superior de carbapenemos, 14%. Surgiu utilização de linezolide em 6% das infeções.
Quanto ao uso de antibióticos de acordo com o foco, destacaram-se os focos respiratório e urinário, correspondendo a 84% das infeções. Nas infeções respiratórias usaram-se aminopenicilinas em 47%, peniclinas antipseudomónicas em 27% e ainda macrólidos em 29%, sempre em associação com outros antimicrobianos. Nas infeções urinárias, utilizaram-se aminopenicilinas, penicilinas antipseudomónicas e quinolonas em 34, 19 e 13%, respetivamente.
Foram colhidos produtos em 253 (93%) das infeções, obtendo-se isolamentos microbiológicos em 112 (44%). Considerando estas 112 infeções, houve ajuste da antibioterapia ao TSA em 77% das infeções da comunidade e em 90% das IACS e das infeções nosocomiais. Foi possível restringir o espectro antimicrobiano em 23% dos casos.
Na ausência de isolamentos, houve escalada terapêutica em cerca de 1/5 das infeções.
Conclusão: A presente análise poderá ser reproduzida noutros serviços, de modo a identificar potenciais alvos de ação. O estudo da flora e práticas locais é essencial para otimizar a conduta de prescrição de antimicrobianos.