23

24

25

26
 
ARTERITE TEMPORAL E ENDOCARDITE MARÂNTICA - UMA ASSOCIAÇÃO RARA
Doenças autoimunes, reumatológicas e vasculites - Caso Clínico
Congresso ID: CC008 - Resumo ID: 420
Hospital Pedro Hispano
Raquel Santos, Mylene Costa, Carolina Paiva, Cristina Rosário, Mariana Taveira
A endocardite marântica é uma forma não infeciosa de endocardite, que cursa com deposição de trombos estéreis nas válvulas cardíacas e grande potencial de embolização sistémica. Associa-se frequentemente a doenças autoimunes ou neoplasias.

Mulher de 78 anos, sem antecedentes relevantes, com cefaleia occipito-temporal, claudicação da mandíbula e febre com 2 meses de evolução, tendo realizado vários ciclos de antibioterapia sem melhoria. No exame físico apresentava-se com estabilidade hemodinâmica, sopro sistólico grau III/VI no foco aórtico sem irradiação, sem outras alterações de relevo. Analiticamente: proteína C reativa de 101,5 mg/L e velocidade de sedimentação de 110 mm/1ªh. Eletrocardiograma: fibrilhação auricular (FA) com resposta ventricular controlada.
Tomografia computorizada tóraco-abdomino-pélvica e exame sumário de urina sem alterações, hemoculturas (HC) negativas. Na presunção de arterite temporal de células gigantes realizou ecodoppler das artérias temporais que revelou halo hipoecogénico em ambas as artérias temporais superficiais. Por queixas sugestivas de amaurose fugaz, iniciou corticoterapia (1 g de metilprednisolona durante 3 dias e posteriormente 1 mg/kg/dia), verificando-se melhoria clínica, apirexia e descida de parâmetros inflamatórios. Observada por Oftalmologia e excluídos fenómenos vasculíticos. Excluídas lesões dos grandes vasos por angiotomografia torácica. Ao 4º dia de tratamento, fez biópsia da artéria temporal que não mostrou achados sugestivos de vasculite. Pelo sopro sistólico foi realizado ecocardiograma transtorácico e posteriormente transesofágico que evidenciou vegetações na válvula aórtica. Pedidas serologias de microrganismos fastidiosos que foram negativas e vários sets de HC negativos.
Interpretado o caso como arterite de células gigantes com endocardite marântica associada. Iniciou hipocoagulação pela concomitância de FA. Evoluiu favoravelmente com melhoria franca das queixas iniciais, sem recidiva de febre e com normalização dos parâmetros inflamatórios. Mantém-se assintomática ao fim de 3 meses de tratamento, com corticóide em desmame.

Este caso reporta uma associação rara entre arterite temporal e endocardite marântica, estando descritos poucos casos na literatura. O alto índice de suspeição clínica de arterite temporal levou ao início precoce de corticoterapia, a fim de evitar complicações major, como a cegueira. O diagnóstico foi apoiado pelos achados de Doppler, sendo que a biópsia negativa não exclui o diagnóstico, sobretudo sendo realizada sob corticoterapia. Os autores destacam a importância da anamnese e exame físico, nomeadamente o achado de sopro sistólico, que permitiu o diagnóstico de endocardite marântica. Alertam para esta associação rara, suas complicações e necessidade de abordagem célere na marcha diagnóstica.