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TUDO COMEÇA NA GRAVIDEZ
Doenças autoimunes, reumatológicas e vasculites - Caso Clínico
Congresso ID: CC010 - Resumo ID: 424
Hospital Garcia de Orta
Mafalda Sá Pereira, Conceição Escarigo, Pedro Correia Azevedo
A patologia médica na gravidez é um desafio e a gestão da patologia crónica numa mulher jovem em idade fértil pode ser complexa.
Os autores apresentam o caso de uma mulher de 27 anos, grávida de 22 semanas, que se apresenta com quadro de crises convulsivas tónico-clónicas generalizadas, associada a hipertensão arterial, sem factores desencadeantes, que se assumiu no contexto de eclâmpsia, com necessidade de interrupção da gravidez. Trata-se de uma doente com história conhecida de lupus discóide, diagnosticado aos 18 anos, sob terapêutica com plaquinol.
Após a interrupção da gravidez, e com o controlo da hipertensão (com perfusão de sulfato de magnésio e labetalol), a doente manteve-se assintomática. Por suspeita de trombose venosa cerebral realizou TC-CE e RM-E, cujas alterações foram compatíveis com encefalopatia posterior reversível, que se enquadra no contexto de eclâmpsia.
No decorrer do internamento a doente apresentou queixas de dor no membro superior direito, tendo realizado ecodoppler venoso do membro superior, que confirmou trombose venosa profunda, pelo que iniciou anticoagulação, com melhoria das queixas, e teve alta para consulta de Medicina Obstétrica (Medicina Interna). No estudo adicional destaca-se realização de RM-Abdominal que mostrou sinais de trombose crónica portal com transformação cavernomatosa, esplenomegália com enfarte esplénico e trombose mesentérica difusa, associada a macrorregeneração hepática e hipertensão portal com varizes em múltiplos territórios vasculares (mesentéricas, perigástricas, periesplénicas e retroperitoneais esquerdas), destacando-se analiticamente padrão cito-colestático e anticorpo anti-cardiolipina e anticorpo lúpico positivos. O estudo realizado em ambulatório permitiu a confirmação da positividade dos anticorpos referidos, após 12 semanas do episódio inicial, sem outras alterações a nível de mutações nos fatores/inibidores de coagulação (Fator V e II, anti-trombina, proteína C e proteína S), Homocisteinémia, Doença de Wilson ou Hepatite auto-imune.
Deste modo, obteve-se o diagnóstico de Sindrome Anticorpo Antifosfolípido numa jovem em idade fértil, que mantém o desejo de engravidar. Actualmente a doente está a tentar engravidar, mantendo, por isso, terapêutica sob enoxaparina, monitorizada pela actividade anti-Xa. A gestão destes casos, em que a hipocoagulação crónica é mandatória, revela-se um desafio.