INTRODUÇÃO: A insuficiência cardíaca (IC) associa-se a elevada morbimortalidade, com grande repercussão no sistema de saúde, nomeadamente no que se refere ao número e duração dos internamentos hospitalares.
OBJECTIVOS: Caracterização dos doentes reinternados por IC, nomeadamente quanto à idade (na primeira admissão), ao número e à duração dos internamentos, aos motivos de agudização e às suas comorbilidades.
MATERIAL E MÉTODOS: Estudo retrospectivo, baseado na revisão dos processos clínicos dos doentes reinternados no Serviço por IC descompensada, entre 2010 e 2016.
RESULTADOS: Foram identificados 289 doentes, 62% mulheres. Apresentavam idade média (IM) de 82 anos, sendo as mulheres mais velhas (IM: 83 anos). Cada doente, em média, apresentou 14 admissões no Serviço de Urgência (SU), 4 reinternamentos, 48 dias de internamento e cumpriu terapêutica com 10 fármacos. 62% apresentavam algum grau de dependência e 18% residiam em lar. Durante o período considerado, faleceram 69% dos doentes. Foram identificadas, em média, 6 comorbilidades por doente, sendo as principais: hipertensão arterial (HTA) (82%), fibrilhação auricular (FA) (72%), anemia (66%) e doença renal crónica (DRC) (63%). A principal etiologia de IC foi a hipertensiva (81%) e as causas mais frequentes de agudização foram a infecção (52%) - sobretudo respiratória (31%) e as taquiarritmias (10%). Do total, 70% apresentavam FEV preservada: 69% mulheres, IM de 83 anos e com maior prevalência de HTA (96%), FA (75%), obesidade (41%) e maior número de admissões no SU (15 em média). Os doentes com FEV reduzida (30%) eram mais jovens (IM: 79 anos), maioritariamente homens (54%), com maior grau de autonomia (54% autónomos); apresentaram maior taxa de mortalidade (70%) comparativamente aos com FEV preservada; e, ainda, maior taxa de incumprimento terapêutico (22%) e bradiarritmia (13%) como factores de agudização. Do total de doentes, 31% tinham menos de 80 anos, 54% dos quais mulheres e 58% com FEV preservada; neste grupo verificou-se uma maior proporção de diabetes mellitus (57%), de obesidade (44%) e de doença arterial periférica (38%). Os doentes com mais de 4 reinternamentos (29%) eram mais jovens (IM: 79 anos), 54% mulheres e, em média, com 23 admissões no SU; estes apresentaram maior expressão da anemia (78%), DRC (71%), doença pulmonar (56%) e hiponatrémia (43%).
CONCLUSÕES: Os doentes com reinternamentos por IC descompensada apresentam significativo número de comorbilidades, independentemente da FEV e do género, devendo o controlo destas ser integrado na sua abordagem. As infecções assumem-se como a principal etiologia de descompensação e consequentemente dos internamentos, realçando a necessidade do melhoramento das estratégias da sua prevenção e controlo.