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CORTICOIDES - UMA FACA DE DOIS GUMES
Doenças autoimunes, reumatológicas e vasculites - E-Poster
Congresso ID: P112 - Resumo ID: 432
Medicina 2.3, Hospital Santo António dos Capuchos, Centro Hospitalar de Lisboa Central.
João Queirós, João Oliveira, Diana Simão, Márcia Pereira, Miguel Nunes, Francisca Martins, Sofia Pinheiro, Eduardo Silva
Corticoides – Uma faca de dois gumes.

Introdução: Os corticóides sistémicos estão preconizados para tratar a sarcoidose ocular severa bilateral ou associada a afecção sistémica. Contudo, os seus efeitos secundários podem sobrepor-se aos benefícios. Este caso realça a necessidade de ponderar precocemente o uso de terapêuticas imunossupressoras que permitam a redução dos corticóides.

Caso clínico: Em Junho de 2018 recebemos na nossa consulta uma mulher de 67 anos com história de dislipidemia e uveíte anterior do olho direito (OD) diagnosticada em 2017, por suspeita de sarcoidose em contexto de inflamação do olho esquerdo e uveíte anterior e diminuição da acuidade visual do OD. Negava febre, astenia, mialgias ou queixas respiratórias. Perante esta hipótese diagnóstica realizou TC torácica que revelou adenopatias mediastínicas e múltiplas opacidades micronodulares bilaterais, achados compatíveis com sarcoidose com envolvimento pulmonar.
Analiticamente apresentava uma enzima de conversão da angiotensina de 87 U/L (normal entre 15 e 85), serologias infecciosas e mantoux negativos, HLA-B27 negativo e anticorpos antinucleares positivos.
Realizou electrocardiograma que foi normal e broncofibroscopia com lavado bronco-alveolar que revelou infiltrado inflamatório granulomatoso e um índice CD4+103+/CD4+ de 0.17 (cut-off <0.31) e pesquisa de microorganismos e células neoplásicas negativas, achados confirmatórios de sarcoidose.
Por afecção severa do OD e envolvimento pulmonar iniciou prednisolona (PDN) 1mg/kg, com melhoria nas semanas seguintes.
Quatro semanas depois iniciou quadro de poliuria associado a glicemias de 400 mg/dL e HbA1C de 10% que se atribuiu à corticoterapia. Iniciou antidiabéticos orais, sem efeito, e posteriormente insulina. Nesta altura referia também mialgias sem alterações analíticas, sendo assumida miopatia por corticóides, e reduzida a dose destes para metade. Em Outubro foi internada durante 20 dias por trombose venosa profunda grave do membro inferior esquerdo, com afecção das veias poplítea, femoral superficial, femoral comum e ilíaca externa, tendo alta medicada com rivaroxabano após recuperação parcial. Iniciou a azatioprina 100 mg/dia reduzindo a PDN para 10mg/dia. Em finais de Novembro realizou TC da coluna dorsal e lombar por lombalgia que revelou hérnia discal L4 e fractura osteopénica em D12. Posteriormente passou a deflazacorte 6mg e em 02/2019 suspendeu a corticoterapia, com diminuição da necessidade de insulina. Nove meses após o diagnóstico está sem azatioprina.

Discussão: Esta doente apresentou uma série de complicações graves associadas à corticoterapia. No entanto, é de assinalar que a gravidade da afecção ocular e o envolvimento pulmonar justificavam o recurso aos corticóides sistémicos.
Casos como este chamam a atenção para a necessidade de uma utilização criteriosa e de uma redução rápida da dose de corticóides, para além da introdução precoce de outras opções terapêuticas imunossupressoras, quando possível.