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QUANDO SE SUBESTIMA A INTOXICAÇÃO POR ORGANOFOSFORADOS – A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO
Urgência / Cuidados Intermédios e Doente Crítico - E-Poster
Congresso ID: P855 - Resumo ID: 437
Centro Hospitalar Baixo Vouga - Aveiro
Carolina Amado, Mariana Maranhas, Tiago Valente, Ana Rocha Oliveira, Marcelo Aveiro, Margarida Cruz
A intoxicação por organofosforados (OF) não é incomum em doentes com ideação suicida, sendo mais frequente nos homens. É uma emergência médica associada a elevada morbi-mortalidade.
Homem, 57 anos, antecedentes de Hipertensão Arterial, Síndrome depressiva e Diabetes Mellitus tipo 1, com nefropatia diabética, sob terapêutica imunossupressora por transplante renal. Recorreu ao SU por quadro depressivo com ideação suicida, foi avaliado por Psiquiatria, com alta sob ajuste de terapêutica sedo-hipnótica, nomeadamente benzodiazepinas. Voltou ao SU no dia seguinte por prostração e alteração do estado de consciência. Negava intoxicação voluntária, com fármacos ou outras substâncias. Posteriormente, revelou consumo de reduzida quantidade de herbicida (OF). Ao EO, na admissão: lentificado, mas colaborante, pupilas isocóricas e fotoreativas, hipertenso e normocárdico. Analiticamente, a destacar, hiperglicemia, leucocitose discreta com PCR negativa, consumo de colinesterase (71 U/L), doseamento de etanol normal e hiperlactacidemia (4 mmol/L). Pesquisa de drogas de abuso na urina positiva para benzodiazepinas. Realizou TC-CE, sem alterações agudas. Foi contactado o Centro de Informação Anti-Venenos, optando-se por vigilância, tendo em conta a ausência de sinais e sintomas muscarínicos.
Em D2 de permanência no SU, iniciou quadro de prostração, febre e dificuldade respiratória, com taquicardia reativa, mantendo perfil tensional estável. Apresentava insuficiência respiratória (IR) tipo 2 e radiografia do tórax com hipotransparência discreta à esquerda, sem infiltrados sugestivos de foco infeccioso pulmonar. Iniciou VNI, com melhoria inicial. No dia seguinte, agravamento do quadro neurológico, pupilas mióticas e não reativas, IR mantida, mas controlada com VNI, e broncorreia importante. Estabilidade hemodinâmica sustentada, sem bradicardia documentada. Em reavaliação analítica, PCR em crescendo, procalcitonina positiva, lesão renal aguda e colinesterases de 49 U/L. Repetiu TC-CE sem alterações de novo e radiografia de tórax compatível com pneumonia direita, em provável contexto de aspiração. Pesquisa de Influenza no exsudado nasal negativa.
Por sintomas compatíveis com intoxicação por OF, sobretudo disfunção neurológica tardia, iniciou atropina e obidoxima. Foi instituída antibioterapia empírica. Por estado de imunossupressão, associou-se oseltamivir. Em conjunto com a Medicina Intensiva, o doente foi estabilizado e transferido para centro de referência, com Unidade de Transplantação Renal, onde a evolução foi favorável.
A intoxicação com OF manifesta-se por sinais e sintomas mais ou menos frequentes, de forma precoce ou tardia. Os autores pretendem alertar para a possibilidade de uma sintomatologia inicial frustre, com evolução progressiva, podendo ser fatal, caso se protele o início de terapêutica adequada – tratamento e suporte de órgão. Assim, é fundamental um elevado grau de suspeição, com ênfase na história clínica, vigilância apertada e atuação precoce.