23

24

25

26
 
ENDOCARDITE INFECIOSA A E.COLI – UM DIAGNÓSTICO INESPERADO
Doenças infeciosas e parasitárias - E-Poster
Congresso ID: P468 - Resumo ID: 438
Centro Hospitalar Baixo Vouga - Aveiro
Carolina Amado, Mariana Maranhas, Tiago Valente, Ana Rocha Oliveira, Marcelo Aveiro, Margarida Cruz
A endocardite infecciosa (EI) caracteriza-se pela infeção das estruturas valvulares cardíacas ou do endocárdio mural. A clínica é variável, sendo que o diagnóstico se baseia na conjugação de critérios clínicos e ecocardiográficos. Os principais agentes patogénicos são amplamente reconhecidos, contudo, nos últimos anos, as bactérias entéricas têm assumido uma importância crescente na etiologia da EI.
Mulher de 83 anos de idade, com antecedentes de Hipertensão Arterial, dislipidemia, fibrilhação auricular hipocoagulada, insuficiência cardíaca e doença cerebrovascular isquémica. A referir, internamento recente por urosépsis, com bacteriémia a Escherichia coli (E.coli) multissensível, com ecocardiograma transtorácico (ETT) sem evidência de vegetações. À data de alta hemoculuras negativas. Recorre por prostração e recusa alimenta com desidratação. Ao exame objetivo, doente prostrada, não colaborante e hipotensa, sem outros achados relevantes. Analiticamente, com elevação dos parâmetros inflamatórios, discreta elevação do INR e bilirrubina total à custa da bilirrubina direta; exame sumário de urina com leucocitúria. Foi assumida urosépsis com disfunção multiorgânica. Iniciou antibioterapia empírica com ceftriaxone, que se manteve após isolamento em hemoculturas e urocultura de E. coli multissensível. Por agravamento do estado geral, com febre persistente e parâmetros inflamatórios em crescendo, foi alterada antibioterapia para piperacilina-tazobactam, após colheita de novo rastreio microbiológico, que se revelou negativo. Tendo em conta agravamento clínico mantido, em doente com bacteriémia na admissão, realizou ETT (boa janela ecográfica) que documentou vegetação aderente ao folheto posterior da válvula mitral, de grandes dimensões (25/11mm), condicionando regurgitação significativa. Foi assumida endocardite infeciosa a E. coli. O quadro clínico evoluiu desfavoravelmente e a doente acabou por falecer.
A endocardite por E. coli é rara, tendo em conta a diminuta capacidade de adesão deste agente ao endocárdio. O tratamento requer cursos de antibioterapia em associação de maior duração (≥ 6 semanas) e a cirurgia está indicada com frequência. Associa-se a pior prognóstico, com elevada morbilidade e mortalidade (~21%). O presente caso clínico pretende reforçar a importância do elevado índice de suspeição no diagnóstico de EI, especialmente por agentes menos comuns.