Carolina Amado, Mariana Maranhas, Tiago Valente, Ana Rocha Oliveira, Marcelo Aveiro, Margarida Cruz
As tumefacções cervicais são um motivo de admissão comum, com apresentação clinica variável e constituindo um desafio na distinção da etiologia subjacente, pelo amplo diagnóstico diferencial que se impõe.
Mulher, 56 anos, fumadora ativa (19 UMA), com antecedentes de Hipotiroidismo e Hipertensão Arterial. Recorreu ao Serviço de Urgência por tumefação cervical esquerda, dolorosa, com sinais inflamatórios agravados, quadro com evolução de um mês. Associadamente, referência a febre e sudorese noturna nos 4 dias prévios à admissão. Negava anorexia, astenia, perda ponderal, queixas respiratórias ou estomatológicas recentes, sem contexto epidemiológico conhecido. Ao exame objetivo, tumefação móvel de cerca de 8x5 cm, não aderente às estruturas adjacentes e de consistência pétrea, dolorosa à palpação. Tiróide não palpável e sem adenopatias palpáveis nas principais cadeias ganglionares. Analiticamente, hemograma sem alterações, elevação da proteína C reativa e velocidade de hemossedimentação (15 mg/dL e 80 mm/1ªH, respetivamente), serologias víricas comuns e estudo de autoimunidade negativos e função tiroideia normal. Do restante estudo, a destacar: TC cervical que evidenciou conglomerado adenopático necrosado e abecedado e ecografia tiroideia que mostrou vários nódulos sólidos em ambos os lobos, para controlo evolutivo. Realizou, ainda, TC-TAP sem alterações de relevo, nomeadamente outras adenopatias, esplenomegalia ou lesão suspeita de malignidade. Endoscopia digestiva alta sem alterações relevantes. Foi avaliada por ORL e Estomatologia, sem alterações a justificar o quadro clínico. Realizou biópsia aspirativa da lesão, na impossibilidade de excisão ganglionar, com escassa colheita de produto, que foi negativo para Mycobacterium tuberculosis. Não foi possível exame bacteriológico e histológico. Por etiologia infeciosa mais provável, embora sem agente identificado, cumpriu antibioterapia, com resposta favorável. Em reavaliação aos 6 meses, doente assintomática e com controlo imagiológico sem alterações.
A causa mais frequente de tumefacção cervical lateral no adulto, de instalação aguda, é a infeção e/ou inflamação reativa. No entanto, dependendo dos factores de risco conhecidos, é necessário excluir outras etiologias, destacando-se as neoplasias, do foro ORL ou linfoproliferativas, e a tuberculose ganglionar.
O presente caso pretende ilustrar a dificuldade da marcha diagnóstica de tumefações cervicais, assim como a necessidade de exclusão de patologias que cursam com elevada morbi-mortalidade.