Lúcia Moreira Gil, António Eliseu, Rita Silvério, Filipa Silva, Teresa Furtado, Diana Pedreira, Paula Lopes, Manuela Fera, Ermelinda Pedroso
A esofagite eosinofílica (EoE) é uma doença caracterizada por infiltração eosinofílica isolada na mucosa esofágica que foi inicialmente diagnosticada em crianças com raros casos nos adultos. No entanto, recentemente verificou-se um aumento nos adultos com uma prevalência na Europa de 32,5 doentes por 100 000 habitantes. A patogénese é mal compreendida, mas há evidências crescentes de que é uma doença imunomediada desencadeada por alimentos e alérgenos inalantes. O diagnóstico é difícil e muitas vezes tardio devido ao baixo grau de suspeição.
Apresenta-se o caso de um homem de 82 anos, ex fumador, com antecedentes de cardiopatia isquémica, insuficiência cardíaca, hérnia do hiato, gota e que cumpria terapêutica habitual com carvedilol, acido acetilsalicílico, ramipril, atorvastatina e esomeprazol. Estava no seu estado de saúde habitual até há cerca de um ano, quando iniciou quadro de evicção alimentar apesar de manutenção do apetite, por sensação de aperto e ardor ao deglutir associado a perda ponderal e sem outra sintomatologia. Efetuou endoscopia e colonoscopia pedidas pelo médico de família que não apresentaram alterações. Por agravamento da disfagia com intolerância alimentar e perda ponderal de 20 Kg em 1 ano é internado na enfermaria de medicina para investigação. Ao exame objetivo destaca-se doente vígil, emagrecido, sem adenopatias palpáveis, orofaringe sem alterações, apirético, normotenso e normocárdico. Para estudo etiológico efetuou análises sem alterações, TC do tórax que revelou espessamento parietal do terço superior e inferior do esófago e endoscopia digestiva alta (EDA) sem alterações mas em que se efetuaram biopsias do 1/3 inferior e 1/3 superior do esófago dadas alterações descritas na TC. Durante o internamento manteve disfagia e intolerância a alimentação oral, pelo que pediu-se a colaboração da otorrinolaringologia tendo realizado nasolaringofibroscopia que estava normal. Realizou ainda radiografia da coluna cervical que excluiu doença de forestier e estudo baritado do trânsito esofágico, também normal. Obtivemos o resultado anatomo-patológico das biópsias esofágica compatível com esofagite eosinofílica, tendo iniciado corticoterapia sistémica com tolerância a alimentação oral. Foi encaminhado para consulta de Hospital de dia de Medicina Interna para posterior referenciação a consulta de imunoalergologia.
Este caso clínico evidencia a dificuldade no diagnóstico da esofagite eosinofílica pelo baixo grau de suspeição sobretudo em adultos/idosos e pela necessidade de realização de biópsia demonstrando infiltração eosinofílica anormal da mucosa esofágica com ≥ 15 eosinófilos por campo de grande ampliação em pelo menos 1 biópsia. O tratamento passa por evicção de alimentos potencialmente alergénicos e corticosteroides sistêmicos ou tópicos.