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DOENÇA MENINGÓCICA INVASIVA
Doenças infeciosas e parasitárias - E-Poster
Congresso ID: P510 - Resumo ID: 43
Hospital de Cascais
Manuel Toscano, Isa Silva, Ana Isabel Pedroso, Armindo Ramos
A infecção por Neisseria meningitidis tem diversas apresentações clínicas, em que se incluem a meningococcemia com purpura fulminans, a pneumonia, e, mais frequentemente, a meningite, variando a sua gravidade de uma febre transitória até uma doença fulminante com evolução em poucas horas.
Apresenta-se o caso de uma doente de 33 anos, leucodérmica, com antecedentes pessoais de colite ulcerosa, medicada com salazopirina, que recorreu por quadro de febre associado a calafrio, mal-estar generalizado e vómitos, sem diarreia, com 1 dia de evolução, referindo ainda dor intensa a nível da face plantar dos pés, com incapacidade para a deambulação. Ao exame objectivo inicial destacava-se prostração, hipotermia (TT 34ºC) e hipotensão (PA 80/65mmHg) com taquicardia (FC 130bpm) e sinais de má perfusão periférica. Não se observaram sinais meníngeos ou quaisquer outros achados de relevo, nomeadamente alterações auscultatórias cardiopulmonares ou defesa abdominal. Dos exames complementares salientava-se hiperlactacidemia marcada (lactato 9mmol/L), trombocitopenia (41.000 plaquetas) com coagulopatia de novo (INR 2.25 aPTT 16.7s fibrinogénio 169mg/dL D-dímeros 36mg/L), compatível com coagulação intravascular disseminada, disfunção renal grave e parâmetros inflamatórios elevados. Realizou TC toracoabdominopélvica, que demonstrou espessamento parietal do cólon e recto, sugestivo de processo inflamatório crónico com sinais de agudização, sem outras alterações. Assumido choque séptico com ponto de partida oculto e disfunção multiorgânica, tendo sido iniciada antibioterapia de largo espectro com piperacilina-tazobactam, linezolide e metronidazol. Foi posteriormente obtido isolamento de Neisseria meningitidis (serogrupo C) em hemoculturas, admitindo-se doença meningocócica invasiva com microangiopatia, pelo que foi realizado switch de antibioterapia para ceftriaxone em dose meníngea, que cumpriu durante 17 dias. Dada a instabilidade da doente e o risco do procedimento, e considerando a confirmação prévia de meningococcemia, optou-se pela não realização de punção lombar. Observou-se evolução favorável com resolução do quadro de choque, no entanto com aparecimento de púrpura a nível do promontório nasal e lábios e isquémia progressiva de todos os dedos da mão direita e 3º dedo da mão esquerda, com atingimento extenso da face plantar de ambos os pés. Por este motivo realizou 9 sessões de oxigenoterapia hiperbárica, sem melhoria, e com necessidade de amputação de D1-D4 da mão direita e D3 da mão esquerda, para além de amputação transtibial pelo terço médio de ambas as pernas.
A doença meningócica invasiva é uma patologia pouco frequente mas altamente letal e de diagnóstico por vezes difícil, sobretudo na ausência dos sinais clínicos clássicos, salientando-se, por um lado, a importância da instituição de antibioterapia eficaz o mais precocemente possível, e, por outro lado, a necessidade de melhores estratégias preventivas, incluindo novas vacinas com melhor imunogenicidade.