Introdução: Os doentes com ICA são um grupo heterogéneo, com elevadas taxas de reinternamento e mortalidade mesmo após alta. Em Portugal a incidência de Insuficiência Cardíaca Crónica foi estimada no estudo EPICA (1998-2000) em 4.36%, acreditando-se que este número seja actualmente subestimada tendo em conta o envelhecimento da população até à data actual.
Objectivo: Caracterizar uma população de doentes com ICA num Serviço de Medicina Interna (SMI), durante um ano.
Material e Métodos: Estudo observacional, prospectivo e transversal, dos doentes internados com diagnóstico principal de ICA no SMI, durante o período de Abril de 2017 a Abril de 2018. Os dados epidemiológicos e clínicos foram recolhidos através do Sclinic®. Análise realizada por SPSS®.
Resultados: Amostra de 118 doentes (59,3% mulheres, idade média: 84±7,9 anos). Tempo médio de internamento 27,2 dias. Comorbilidades mais frequentes: Fibrilhação auricular (78,8%), HTA (70,3%) e Diabetes mellitus (39%). Em média, apresentavam 3 comorbilidades. Caracterizando a ICA da amostra: 81,4% crónica agudizada; 84,6% Classe funcional III e IV à entrada; 60,5% com fracção de ejecção preservada; Perfil hemodinâmico B (Quente e Húmido) em 68,6%. A amostra apresentava um BNP médio à entrada de 803±796µg/L. Não foram encontradas correlações entre o valor de BNP e a mortalidade. Os doentes com classe funcional de III e IV apresentam fracções de ejecção mais baixas, com significado estatístico (59,56±14 vs 65,97±11,8, p<0,01). Etiologia IC: 29,7% doença cardíaca isquémica; 36,4% HTA; 9,3% Taquiarritmias. O principal factor precipitante da agudização foi infecção (50%), mas sem correlação estatística com a mortalidade intrahospitalar. Mortalidade global de 52,2% e 9,3% falecidos durante o internamento. 28,8% reinternados por novo episódio de ICA.
Com significado estatístico, os doentes que faleceram comparativamente com os não falecidos no internamento apresentavam hipercaliemia (p=0,04), hipernatremia (143 vs 138, p<0,01), GGT mais elevada à entrada (113 vs 51, p=0,03), Creatinina superior a 1,2 (p=0,03), Ureia aumentada (140 vs 73, p=0,02) e PCR mais elevadas (111 vs 48, p<0,01). Os doentes com valores mais baixos de ferro sérico (43,34 vs 63,48, p=0,04) e saturação da transferrina (14,4 vs 23,7, p=0,03) apresentaram mortalidade global superior com significado estatístico. Os doentes com DPOC apresentaram uma mortalidade global tendenciosamente superior (p=0,06).
Conclusões: O doente tipo com ICA internado num serviço de medicina interna é mulher, com mais de 80 anos, com 3 ou mais comorbilidades, IC crónica agudizada, com fracção de ejecção preservada, NYHA III ou IV e perfil B à entrada. A amostra apresenta uma taxa de mortalidade global de 52,2%, semelhante ao já descrito na literatura. A disfunção renal com alterações iónicas correlacionam-se com a mortalidade, assim como a ferropenia independente da presença de anemia.