23

24

25

26
 
A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO DE TUBERCULOSE EXTRAPULMONAR – ANÁLISE RETROSPETIVA DOS CASOS DE TUBERCULOSE NO SERVIÇO DE MEDICINA INTERNA NO PERÍODO DE 8 ANOS
Doenças infeciosas e parasitárias - Comunicação
Congresso ID: CO012 - Resumo ID: 466
Serviço de Medicina Interna, Centro Hospitalar Universitário de São João, Porto
Vanessa Chaves, Sofia Tavares, Ana Ferreira, Fernando Nogueira, José Marques, Ester Ferreira, Jorge Almeida
Introdução: A tuberculose (TB) continua a ser um problema de saúde pública mundial, sendo endémica no norte de Portugal. Caso: Homem, 35 anos; TB tratada na infância, doença pulmonar cística intersticial em estudo. Internado por síndrome febril. Após estudo exaustivo negativo para causa infeciosa, autoimune e neoplásica, iniciou corticoterapia por se assumir a presença de estado inflamatório crónico; apresentou resolução da febre. Reinternado 2 meses depois por recrudescência de febre. Estudo imagiológico com adenopatias mediastínicas de novo. Biópsia ganglionar positiva para Mycobacterium tuberculosis. Diagnosticou-se TB ganglionar e iniciou antibacilares. Apresentou evolução desfavorável, com suspeita de TB disseminada, falecendo em D16 de tratamento.
Objetivo: Analisar o número e características dos casos de TB diagnosticados no Serviço de Medicina Interna (SMI).
Material e Métodos: Estudo retrospetivo dos casos de TB no SMI no período de 8 anos (janeiro 2008-dezembro 2015). Os casos foram identificados pela codificação ICD-9 dos diagnósticos de alta. A informação colhida incluiu dados demográficos, motivo de internamento, tipos de TB, método diagnóstico e outcome.
Resultados: Identificou-se 65 casos de TB; 64.6% do género masculino; mediana de idades 74 (IIQ 53-80). Cinco doentes tiveram TB previamente; 5 eram imunodeprimidos. Os principais motivos de admissão foram derrame pleural para estudo (24.6%), infeção respiratória (20%) e sintomas constitucionais (9.2%). Cerca de um terço constituíram diagnósticos de presunção. Dos casos confirmados, 52.4% apresentavam exclusivamente envolvimento pulmonar (TBP), 33.3% exclusivamente extrapulmonar (TBEP) e 14.3% envolvimento misto. Os locais de TBEP mais comuns foram pleural (35.7%), genitourinário (21.4%) e ganglionar (14.3%). Dos casos com diagnóstico de presunção (n=23), a maioria foram de TB pleural (n=8) e TB disseminada (n=8), seguidos de TB pericárdica (n=4) e ganglionar (n=2). Nos casos de TB de presunção pleural e pericárdica, a maioria dos diagnósticos baseou-se na elevação da adenosina deaminase e na presença de granulomas com necrose caseosa no exame anatomopatológico. No total, 21 doentes faleceram no internamento; dos casos confirmados, a maioria eram de TB pulmonar (n=8) e genitourinária (n=3).
Conclusões: Realça-se a importância de considerar a TB em doentes com clínica/achados sugestivos, principalmente em zonas endémicas. Nos casos sem confirmação microbiológica (cerca de 1/3 na amostra), o diagnóstico e tratamento podem ser estabelecidos com base na suspeição. Na nossa amostra a percentagem de TBEP foi superior à descrita na literatura e a de TBP inferior. Este aspeto pode relacionar-se com o facto de se terem analisado apenas os casos no SMI, sendo que a maioria dos casos fortemente suspeitos de TBP é internada na Pneumologia/Infeciologia. A mortalidade foi elevada na TBP em comparação com a TBEP, o que está em conformidade com a literatura.