Adriana Girão, João Filipe Gomes, Mariana Lopes, Rui Pina, Armando de Carvalho, Saraiva da Cunha
Doente do sexo feminino, de 53 anos, com diagnóstico de infeção por HIV-1 desde 2008, com abandono da terapêutica e sem seguimento desde 2013. Perante crises tónico-clónicas generalizadas, a TC-CE mostrou lesões cerebelosas hemisféricas esquerdas. Posteriormente internada para estudo etiológico no Serviço de Doenças Infeciosas.
A RM-CE evidenciou lesões cerebelosas bilaterais profundas, a mais volumosa à esquerda, de aspeto confluente, estendendo-se ao pedúnculo cerebeloso médio deste lado, traduzidas por áreas de hipersinal nas sequências de elevado TR, com menor sinal central na esquerda, com hiposinal ligeiro em T1, sem evidência de realce após contraste, quer central quer à periferia, sem efeito de massa. CD4+ 29.0 em valor absoluto, com carga viral VIH-1 no soro 2260 cp/mL e no líquido cefalorraquidiano (LCR) 10700 cp/mL, assim como carga viral JC 11505 cp/mL no LCR. Assumiu-se quadro de leucoencefalopatia multifocal progressiva em doente com SIDA, tendo sido reiniciada terapêutica antirretroviral (emtricitabina/tenofovir e dolutegravir).
A RM-CE de controlo, após 3 semanas, mostrou aumento da dimensão das lesões cerebelosas, sobretudo as do hemisfério direito, mantendo as suas características de sinal.
Durante o internamento não ocorreram novas crises tónico-clónicas, mas verificou-se marcada perda da capacidade de marcha, com marcha de base alargada e teste de Romberg positivo. Transferida para a Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI) após 36 dias de internamento.
Salienta-se neste caso clínico a apresentação inicial rara de convulsões tónico-clónicas, presente em apenas 13% dos doentes, bem como a localização atípica das lesões cerebrais.