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NEVRITE ÓPTICA BILATERAL - APRESENTAÇÃO RARA DE UMA DOENÇA INCOMUM
Doenças infeciosas e parasitárias - E-Poster
Congresso ID: P463 - Resumo ID: 45
Hospital Pedro Hispano
Isabel Cruz, Filipa Guimarães, Sara Alves, Bruna Vieira, Inês Chora, Paulo Coelho
A doença de Lyme é uma zoonose transmitida pela picada de carraças infetadas com a espiroqueta Borrelia burgdorferi. A apresentação clínica varia de acordo com o órgão afetado, mais frequentemente coração, articulações e sistema nervoso. A neuroborreliose surge em cerca de 15% dos doentes, habitualmente sob a forma de meningite linfocítica e neuropatias cranianas.
Os autores apresentam o caso de um homem de 48 anos, emigrante na Suíça e trabalhador da construção civil, sem antecedentes de relevo, que recorreu ao Serviço de Urgência de Oftalmologia por queixas de visão turva no olho direito (OD) com dois meses de evolução. Ao exame físico documentado defeito papilar aferente relativo do OD e, na fundoscopia, papiledema bilateral. O teste de campos visuais revelou um défice generalizado no OD e um escotoma no olho esquerdo. Analiticamente apenas uma elevação discreta da proteína C reativa (19.7mg/L para normal <5.0 mg/L). A tomografia computorizada cerebral não tinha alterações. Os potenciais evocados visuais estavam prolongados bilateralmente. Ficou internado para estudo.
Feito estudo exaustivo que incluiu estudo imunológico, serologias víricas, testes de sífilis, reação de Wright, função tiroideia, enzima conversora da angiotensina, estudo de síndrome anti-fosfolipídico, anti-aquaporina-4 e anti-MOG que foram negativos. O estudo do líquido cefalorraquidiano (LCR) revelou pleocitose (177 células/mL) com predomínio de mononucleares e proteinorráquia (185.4mg/dL para normal de 15.0-45.0mg/dL). Os exames culturais bacterianos foram negativos e a infeção por micobactérias foi excluída por PCR, teste de Ziehl-Neelsen e exames culturais. Foram detetadas bandas oligoclonais de imunoglobulina (Ig) G no LCR, mas não no soro, apontando para síntese intratecal e doença inflamatória do SNC. A ressonância magnética cerebral e das órbitas não revelou alterações.
A serologia de Borrelia por ELISA mostrou níveis elevados de IgG e IgM (>200 e 195 respetivamente, para limite <22). O diagnóstico foi posteriormente confirmado por Western blot, com quatro bandas positivas (p41 e VIsE para IgG e p41 e OspC para IgM). A PCR da Borrelia no LCR foi negativa, mas a sensibilidade deste teste é baixa.
Assumido o diagnóstico de meningite e nevrite óptica bilateral secundária a Doença de Lyme. Após insistência o doente recordava ter encontrado uma carraça na sua roupa cerca de um ano antes deste episódio. Foi tratado com Ceftriaxone em doses meníngeas durante 28 dias, com melhoria clínica. Como regressou à Suíça não foi possível repetir os testes dos campos visuais para confirmar a evolução.
Este caso representa uma manifestação rara daquela que é a doença transmitida por vetores mais comum do hemisfério norte e deve sempre ser incluída nos diagnósticos diferenciais de nevrite óptica em áreas endémicas, nas quais se inclui a Suíça. O reconhecimento precoce com início atempado do tratamento pode prevenir défices neurológicos persistentes, nomeadamente perda de visão permanente.