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MENINGOCOCCEMIA SEM MENINGITE
Doenças infeciosas e parasitárias - E-Poster
Congresso ID: P497 - Resumo ID: 482
ULSM - Hospital Pedro Hispano
Francisca Pinto Beires, Sara Sofia Pereira, Joana Rodrigues Morais, Ricardo Pereira
A Neisseria meningitidis é um diplococo Gram negativo potencialmente causador de morbilidade e mortalidade significativas, predominantemente por septicemia ou meningite. No entanto, pode cursar com envolvimento cutâneo, articular, cardíaco, respiratório e geniturinário.
Mulher, 88 anos, Frailty score de 6, com diabetes mellitus tipo 2 e dislipidemia não medicadas mas com bom controlo metabólico e cardiopatia hipertensiva, sem outros antecedentes de relevo.
Apresenta-se com tosse com expetoração mucopurulenta e pieira com quatro dias de evolução. Sem dispneia, rinorreia, toracalgia, febre, arrepios e hipersudorese. Negava cefaleias, atralgias e mialgias.
Ao exame objectivo apresentava-se confusa e sonolenta (Glasgow 14), febril (38ºC), hemodinamicamente estável, normocárdica e com dessaturação na oximetria. Na auscultação pulmonar evidenciava roncos bilateralmente. Tinha edema dos membros inferiores bilateralmente até aos joelhos. Sem alterações dermatológicas visíveis. Ao exame neurológico, além da confusão, não apresentava sinais meníngeos ou défices motores. Analiticamente apresentava leucocitose (18450/uL) com neutrofilia (12400/uL), função renal, ionograma e perfil hepático sem alterações; Gasimetricamente, verificava-se uma insuficiência respiratória do tipo 2 (FiO2 24%: pCO2 45; pO2 64; Sat 93%). Na radiografia do tórax era aparente uma hipotransparência na base direita. Realizou tomografia computorizada (TC) tóracica, que mostrou apenas alterações fibro-atelectásicas residuais no segmento posterior de ambos os lobos pulmonares superiores. Foi assumido o diagnóstico de traqueobronquite aguda e iniciou empiricamente ceftriaxone.
Durante o internamento, foram conhecidos os resultados das hemoculturas que isolaram uma Neisseria meningitidis. Perante este isolamento, a doente realizou TC crânio-encefálica que se revelou normal e punção lombar que deu saída a um líquor sem alterações citoquímicas e sem crescimento de bactérias. O diagnóstico final foi meningococemia com ponto de partida em traqueobronquite, sem meningite, tendo a doente cumprido 14 dias de antibioterapia com hemoculturas de controlo negativas e boa evolução clínica.
Este caso traduz uma forma pouco comum de apresentação de meningococcemia, com uma prevalência de 5% na população infectada por Neisseria meningitidis. Esta forma discreta e transitória de bacteriemia é caracterizada por uma clínica sugestiva de infeção respiratória, exantémica vírica ou pela presença exclusiva de febre. A recuperação surge em 2 a 5 dias, frequentemente de forma espontânea, mostrando que uma infeção por Neisseria meningitidis nem sempre traduz gravidade clinicamente importante.