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SÍNDROME DE KOUNIS – UMA APRESENTAÇÃO RARA
Doenças cardiovasculares - E-Poster
Congresso ID: P159 - Resumo ID: 483
Centro Hospitalar Universitário do Algarve
Liliana Pedro, Dina Bento, Jorge Mimoso, Ilídio Jesus
Introdução: A síndrome de Kounis (SK) é uma síndrome de hipersensibilidade coronária na sequência de uma reação anafilática, levando a vasospasmo das artérias coronárias. Podem ocorrer 3 variantes desta síndrome: angina vasospástica alérgica (tipo I), enfarte agudo do miocárdio alérgico (tipo II) e trombose de stent por oclusão por infiltrado eosinofílico e mastocitário (tipo III). Podem ocorrer manifestações tipicamente alérgicas, como por exemplo, rash ou sibilos. Existem 175 casos confirmados (2017), sendo mais comum em homens (74,3%), entre a quinta e sétima décadas de vida. O tipo mais comum é o tipo I (72,6%), sendo a causa mais frequente a alergia a fármacos (27,4%), seguindo-se de picadas de insectos (23,4%). Geralmente, o prognóstico é favorável e as complicações graves são raras.
Caso clínico: Homem, de 52 anos, com hábitos tabágicos. Sem antecedentes relevantes, sem medicação habitual, sem alergias conhecidas. Antecedentes familiares de irmão com acidente vascular cerebral antes dos 50 anos. Após uma picada de abelha na região periorbitária esquerda, iniciou de seguida dor retroesternal, persistente, com irradiação aos membros superiores. Sem manifestações alérgicas típicas. Primeiro eletrocardiograma com bradicardia sinusal alternando com ritmo juncional com elevação do segmento ST em DII, DIII, aVF compatível com o diagnóstico de enfarte agudo do miocárdio com elevação do segmento ST inferior. Realizou cateterismo cardíaco que revelou doença coronária de 1 vaso, com lesão suboclusiva no segmento médio da artéria coronária direita tendo sido realizada angioplastia primária com stent fármaco revestido. O ecocardiograma transtorácico evidenciou fração de ejeção do ventrículo esquerdo de 68% e com alterações da motilidade segmentar no segmento basal do septo interventricular e parede inferior. Evolução clínica no internamento em Killip-Kimball I, sem intercorrências. Sem necessidade anti-histamínicos no internamento. Teve alta medicado com dupla anti-agregação, estatina, IECA e beta-bloqueante.
Discussão: Estamos perante um caso raro de síndrome de Kounis tipo II (22,3% dos casos descritos de SK). Este tipo é causado pela libertação de mediadores inflamatórios que induzem vasospasmo coronário juntamente com erosão ou rotura de placa aterosclerótica. O SK tipo II deve ser tratado de acordo com as orientações para a abordagem de uma síndrome coronária aguda, podendo também ser necessário administrar corticoides e anti-histamínicos. A correta identificação desta síndrome é de vital importância pois a abordagem terapêutica poderá ser diferente. O SK tipo I pode ser tratado apenas com corticoides e anti-histamínicos; e os beta-bloqueantes podem agravar o vasospasmo em qualquer dos tipos. Salienta-se a relevância da realização de uma história clínica completa que inclua a história de alergias medicamentosas e não medicamentosas.