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IMUNOSSUPRESSÃO COMO FATOR DE RISCO PARA INFEÇÃO RARA
Doenças infeciosas e parasitárias - Poster com Apresentação
Congresso ID: PO040 - Resumo ID: 488
Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa
Lígia Rodrigues Santos, Teresa Dias Moreira, Margarida Silva Cruz, Gisela Evaristo Vasconcelos, Dalila Parente, Alice Castro, Mari Mesquita
As manifestações gastrointestinais em doentes imunossuprimidos são um desafio diagnóstico, devendo ser considerados variados microrganismos, incluindo agentes raramente envolvidos nestes quadros como fungos, parasitas e vírus. É igualmente fundamental a exclusão de causas não infeciosas, nomeadamente malignidade.
Homem de 78 anos, com total dependência de terceiros pós-fratura trocantérica direita. Antecedentes de infeção por Vírus Imunodeficiência Humana (VIH 1), sob terapêutica antirretroviral (Darunavir/Ritonavir e Etravirina) com boa adesão. Admitido por quadro de dor abdominal e diarreia com mais de três semanas de evolução, com mais de 10 dejeções aquosas por dia, sem evidência sangue ou muco. Sem outras queixas ou contexto epidemiológico de relevo. Gasimetricamente com acidose metabólica, sem acidemia. Analiticamente de destacar pancitopenia, elevação da proteína C-reativa, disfunção renal compatível com lesão renal aguda AKIN (Acute Kidney Injury) 2 e hiponatremia hiposmolar hipovolémica. Acresce contagem de linfócitos T CD4 83/mm3 e carga viral VIH suprimida. Tomografia abdominopélvica sem alterações de relevo. Iniciou antibioterapia empírica com metronidazol e ciprofloxacina, tendo sido internado para vigilância e melhor esclarecimento diagnóstico. Cumpriu 7 dias de antibioterapia sem melhoria clínica, mantendo padrão de dejeções e sem isolamento de agente em bacteriológico, parasitológico e virológico (rotavírus e adenovírus) de fezes. Durante o internamento realizou ainda endoscopia digestiva alta que não mostrou alterações significativas e endoscopia digestiva baixa a revelar múltiplas úlceras e erosões entre os 20 e os 40cm da margem anal e cólon tunelizado e pouco distensível. Dadas as alterações endoscópicas e pesquisa de DNA de Citomegalovírus (CMV) positiva no sangue (2,2 x 10^3 cópias/mL), iniciada terapêutica com ganciclovir endovenoso. Histológico de biópsia do cólon com tecido necroinflamatório e inclusões citomegálicas em células do estroma (imunohistoquímico com anti-CMV positivo) a confirmar diagnóstico de colite ulcerada a CMV, tendo cumprido 10 dias de terapêutica durante o internamento com melhoria clínica e analítica a traduzir-se em resolução das disfunções da admissão. Posterior transição para valganciclovir oral que cumpriu durante 6 semanas em ambulatório com resolução do quadro.
A infeção por CMV com atingimento gastrointestinal corresponde a uma complicação incomum mas potencialmente severa em doentes imunodeprimidos, nomeadamente em doentes com infeção VIH. A suspeita clínica e estudo endoscópico com confirmação histológica são fundamentais para um diagnóstico e terapêutica dirigida precoce com o intuito de reduzir a morbimortalidade.