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UMA CAUSA RARA DE PANCREATITE AGUDA
Doenças infeciosas e parasitárias - E-Poster
Congresso ID: P426 - Resumo ID: 494
Centro Hospitalar Barreiro-Montijo
Ana Isabel Correia, Mónica Pedro, Martinho Fernandes, Fátima Campante
Introdução:
A pancreatite aguda assume-se como uma condição patológica frequentemente admitida nos serviços de Urgência. Trata-se de um processo inflamatório do pâncreas, sendo as etiologias mais comuns a litíase biliar e o consumo de álcool.
Os autores apresentam um caso raro de pancreatite aguda secundária à infecção por Strongyloides Stercoralis.
Caso Clínico:
Homem de 39 anos, natural da Guiné-Bissau, recentemente em Portugal. Sem antecedentes relevantes, negando hábitos etanólicos. Recorreu ao serviço de Urgência por quadro de epigastralgia tipo facada com irradiação para a região dorsal. Objectivamente com dor na palpação abdominal dos quadrantes superiores, sem defesa. Laboratorialmente com Leucocitose 14,70x109/L, Proteína C Reactiva 19,5 mg/L, Aspartato-Aminotransferase 111 U/L, Alanina-Aminotransferase 108 U/L, Amilase 500 U/L e Lipase 1461 U/L. A Ecografia Abdominal mostrou vesícula biliar sem litíase, confirmada por Tomografia Computorizada Abdomino-Pélvica (TC-AP) que acrescentou ectasia das Vias Biliares Intra-hepáticas e da Via Biliar Principal, aumento do Ducto de Wirsung, alargamento e heterogeneidade da segunda porção do Duodeno e marcada dilatação gástrica. Internou-se com o diagnóstico de pancreatite aguda alitiásica, com exames complementares de infecciologia e imunologia negativos. Realizou Endoscopia Digestiva Alta (EDA) com biópsia do duodeno edemaciado e inflamado. A Colangio-Ressonância Magnética para melhor caracterização das imagens descritas na TC-AP evidenciou alterações sugestivas de Tumor ampular/periampular. No entanto, o resultado anatomo-patológico da biópsia da EDA revelou mucosa duodenal com numerosos parasitas, compatível com Strongyloides Stercoralis. Cumpriu 3 dias de Albendazol oral 400 mg. Teve alta, assintomático, com regressão progressiva dos valores laboratoriais, em remissão na consulta de seguimento.
Discussão:
A Estrongiloidíase é uma infecção provocada pelo Strongyloides Stercoralis, um parasita transmitido através do contacto com o solo infestado. Apresenta grande prevalência mundial, sendo endémica nas regiões tropicais e subtropicais. Muitos dos hospedeiros são assintomáticos. Pode desenvolver manifestações gastrointestinais, como dor abdominal, náuseas, vómitos e diarreia, após a penetração da larva na pele do indivíduo. A associação com pancreatite aguda é rara, sendo escassos os casos descritos na literatura médica. A infestação da ampola do duodeno e do ducto de Wirsung poderá explicar a pancreatite por Estrongiloidíase. O diagnóstico pode passar pelo exame parasitológico de fezes, embora com baixa sensibilidade. O tratamento é eficaz com Albendazol ou Ivermectina. O caso descrito realça também a importância da biópsia, fundamental para o diagnóstico definitivo do caso, pois a imagiologia apontava para uma causa neoplásica. Assim, devemos ter um elevado índice de suspeição em indivíduos provenientes de regiões endémicas, de forma a obter um diagnóstico e tratamento precoces.