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ABCESSO EPIDURAL COMO CAUSA DE PARAPLEGIA
Doenças infeciosas e parasitárias - E-Poster
Congresso ID: P441 - Resumo ID: 501
Centro Hospitalar São João
Inês Ferreira, Ana Monteiro, Tatiana Vieira, Vanessa Chaves, José Pereira
INTRODUÇÃO
Os abcessos epidurais podem surgir como complicações secundárias de qualquer condição que resulte em bacteriémia. O principal microorganismo implicado é o Staphylococcus aureus. O abcesso pode levar a compressão mecânica da medula, que leva a diferentes alterações neurológicas, dependendo do nível medular afetado.

CASO CLÍNICO
Apresenta-se o caso de um homem de 74 anos, com hipertensão arterial e dislipidemia, medicadas.
Recorreu ao serviço de urgência por dor cervical posterior com agravamento progressivo e febre com 7 dias de evolução, associado a astenia e anorexia. História de tratamento dentário 3 dias antes do surgimento do quadro.
Ao exame objetivo, apresentava dor à mobilização cervical passiva e ativa. Sem défices neurológicos focais. Analiticamente, PCR 300 mg/L, sem outras alterações. Trazia RMN cervical realizada em ambulatório, que revelava sinais de processo infecioso espondilodiscal em C4-C5, com coleção endocanalar a esse nível, com deformação da medula. Assumido o diagnóstico de espondilodiscite e o doente foi internado na enfermaria sob ceftriaxone. Isolamento em hemoculturas de staphylococcus aureus meticilino-sensível. Realizou ecocardiograma transtorácico que revelou massa móvel na face ventricular da cúspide não coronária da válvula aórtica. No segundo dia de internamento, apresenta défices neurológicos de novo – hipofonia, tetraparésia arrefléxica e retenção urinária –, polipneia e hipotensão sustentada (80/50mmHg). Realizou RMN cervical emergente que revelou extensão de possível empiema epidural de C1 a C6, sem sinais de enfarte medular, mas a condicionar a sua compressão. Disfunção multi-orgânica em doente em choque séptico/neurogénico/estafilocócico: cardiovascular, renal, hepática e hematológica. Constatada ainda celulite da coxa esquerda.
Submetido a drenagem cirúrgica do empiema epidural, sem intercorrências, e admitido no pós-operatório imediato na Unidade de Cuidados Intensivos.
Ecocardiograma transesofágico sem evidência de coleções. Realizou TC cerebral e toraco-abdominal para exclusão de embolização, que revelou lesões bilaterais sugestivas de embolização séptica pulmonar e coleção nos músculos adutores à esquerda, que foi drenada por ecografia.
Isolamento de MSSA do empiema drenado cirurgicamente. Bacteriémia persistente até ao 13º dia de internamento e antibioterapia dirigida, pelo que se optou por adicionar rifampicina e gentamicina à terapêutica, pelo seu efeito sinérgico.
Teve alta para o hospital da área de residência ao 33º dia de internamento. Melhoria lenta, mas gradual dos défices neurológicos – à data de transferência força muscular grau 2 ao nível dos ombros, cotovelos e membros inferiores, força muscular grau 0 nas mãos.

DISCUSSÃO
Em cerca de 20% dos doentes, os abcessos epidurais podem levar a paraplegia irreversível. O prognóstico depende da celeridade da intervenção cirúrgica. Este caso demonstra o largo espectro de complicações que podem advir de uma infeção estafilocócica.