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PLATIPNEIA – ORTODEÓXIA: UMA CAUSA INESPERADA DE INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA
Doenças cardiovasculares - E-Poster
Congresso ID: P135 - Resumo ID: 502
ULSM - Hospital Pedro Hispano
Helena Greenfield, Isabel Vilas-Boas, Raquel Basto, Carolina Paiva, Cristina Rodrigues, Nuno Moreno
A síndrome platipneia - ortodeoxia é caracterizada por dispneia e dessaturação arterial em ortostatismo que melhora com o decúbito dorsal. Deve-se a uma alteração anatómica e funcional que permite um shunt direito – esquerdo. O diagnóstico é feito por ecocardiograma com soro agitado que permite a identificação do shunt. O tratamento precoce permite uma rápida melhoria sintomática.
Apresentamos o caso de uma senhora de 69 anos, parcialmente dependente para as actividades da vida diária por síndrome demencial em estudo. Apresentava agravamento recente da autonomia, tendo sido trazida ao serviço de urgência por dessaturação periférica e queda no domicílio. Ao exame físico apresentava-se desorientada no tempo e espaço, com saturações periféricas de 88% em ar ambiente e gasometricamente apresentava insuficiência respiratória tipo 1 (pO2 49 mmHg). Do estudo efectuado de realçar radiografia torácica sem alterações, sem evidência de infeção activa, angio-tomografia computorizada (TC) sem evidência de tromboembolismo pulmonar, mas a evidenciar aumento do calibre do tronco da artéria pulmonar, indiciando hipertensão pulmonar e ectasia da aorta ascendente. Sem evidência clínica ou analítica de IC descompensada (BNP 92 pg/mL). A TC cerebral não apresentava lesões agudas e foram excluídas causas de demência reversíveis.
Documentada dessaturação na posição sentada com melhoria com o decúbito, pelo que se colocou a hipótese de síndrome de platipneia – ortodeóxia e foi efetuado ecocardiograma transtorácico que mostrou a passagem de bolhas para o ventrículo esquerdo principalmente com a doente a 45º. Para confirmação foi feito ecocardiograma transesofágico que mostrou presença de foramen ovale patente (FOP) com shunt direito-esquerdo espontâneo a 0º e, com elevação da doente a 45º, verificava-se aumento da dimensão do FOP. A doente foi submetida a encerramento endovascular com implantação de dispositivo Amplatazer®, tendo sido possível suspender o oxigénio suplementar (saturações periféricas em ar ambiente> 94%). A doente apresentou melhoria do estado cognitivo com recuperação da autonomia e diminuição dos períodos de desorientação. Assumiu-se que a hipoxia cerebral consequente à patologia cardíaca estava a contribuir para a deterioração funcional desta doente.
A síndrome platipneia – ortodeóxia é um fenómeno raro, originalmente descrito em 1949, mas com menos de 200 casos publicados na literatura. O seu diagnóstico tem vindo aumentar, mas provavelmente ainda se trata de uma patologia subdiagnosticada. O caso que apresentamos pretende salientar que devemos ponderar este diagnóstico como potencial etiologia perante uma insuficiência respiratória sem causa aparente.