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DESCONJUGAÇÃO DO OLHAR: MANIFESTAÇÃO DE ENCEFALITE POR CMV EM DOENTE VIH+
Doenças infeciosas e parasitárias - E-Poster
Congresso ID: P498 - Resumo ID: 510
Serviço de Medicina Interna, Hospital de Braga
Ana Sá, Paulo Medeiros, Vanessa Palha, Teresa Pimentel, Narciso Oliveira
Introdução: A doença neurológica causada por citomegalovírus (CMV) é uma complicação rara e incomum em doentes com infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (VIH), essencialmente desde o aparecimento da terapêutica anti-retrovírica (TARv). Ainda assim, o CMV continua a ser um dos agentes oportunistas mais comuns nestes doentes, causando grande morbilidade e mortalidade. O reduzido número de células T CD4+ é o principal factor predisponente para o aparecimento de doenças oportunistas em doentes VIH+.
Caso clínico: Mulher de 50 anos, operária fabril. Antecedentes pessoais de epilepsia, histerectomia total e anexectomia bilateral por leiomioma uterino, VIH+ diagnosticado há 17 meses e tuberculose pulmonar há 4 meses. Com várias intercorrências e internamentos prévios por hepatotoxicidade farmacológica provocada pela terapêutica antituberculosa. Após estabilização clínica e analítica, retomada terapêutica antituberculosa com isoniazida e rifabutina e prevista reintrodução de TARv. Na consulta, doente assintomática, mas muito emagrecida (Peso=39kg), com desconjugação do olhar, incapacidade de adução, elevação e depressão do olho esquerdo. Sem sinais meníngeos ou outras alterações no exame físico. É internada no serviço de Medicina Interna para estudo. A RMN cerebral revelou discreta captação de contraste na cisterna interpeduncular. A punção lombar apresentava positividade para DNA de CMV no líquor, sendo diagnosticada meningoencefalite por CMV e iniciado ganciclovir, administrado durante 21 dias, com melhoria clínica parcial. Apesar da reintrodução da TARv na prescrição intra-hospitalar, verificou-se que a doente não tomava a medicação, acabando por agravar a imunodepressão com pancitopenia. Como intercorrência foi diagnosticada pneumocistose (Pneumocystis jirovecci detectado por PCR na expectoração), com consequente degradação progressiva do estado clínico, culminando na morte da doente.
Discussão: A encefalite por CMV manifesta-se habitualmente com uma alteração do estado de consciência ou nos pares cranianos. O diagnóstico baseia-se na clínica e em achados imagiológicos na RMN cerebral ou TC-CE, mas apenas é confirmado com a presença de infecção por CMV no líquido cefalorraquidiano (LCR) por meios de ensaio de reação em cadeia da polimerase (PCR). O DNA do CMV por PCR no LCR é altamente sensível e específico para encefalite por CMV. O tratamento depende do grau de comprometimento neurológico e do risco de complicações.
O caso apresentado de encefalite por CMV numa mulher VIH+ em estadio C3 espelha a importância do tratamento e controlo da imunossupressão. As múltiplas intercorrências na história da doente, levaram a um estado de degradação física e orgânica, com consequentes infecções oportunistas que culminaram na morte da doente.