Joana Braga, Ana Ventura, Clara Almeida, Ana Marta Gomes, Ana Luís, Antónia Furtado
Introdução:
O ateroembolismo é uma doença multissistémica geralmente associada a doença aterosclerótica grave.
Em 25% dos casos pode ocorrer de forma espontânea, mas na maioria das vezes é uma complicação de procedimentos endovasculares e/ou terapia anticoagulante ou trombolítica. Surge quando êmbolos de colesterol deslocam-se de uma placa aterosclerótica erosada para um ou vários leitos vasculares.
O atingimento renal designa-se doença renal ateroembólica (DRAE) e é causa de insuficiência renal aguda muitas vezes grave e prolongada, que ocorre semanas ou meses após o episódio embólico. O método de diagnóstico “gold standart” é a biópsia renal.
Caso Clínico:
Homem de 67 anos, antecedentes de AVC vertebrobasilar aterosclerótico (duplamente antiagregado), doença renal crónica (DRC) estadio 3, HTA, dislipidemia, episódio de isquemia do hallux esquerdo.
Doente internado 6 meses antes por AVC, á data da alta medicado com múltiplos fármacos que não faria previamente: AAS, clopidogrel, rosuvastatina, perindopril e pantoprazol e nessa altura creatinina 1.4 mg/dl. Desde há cerca de 1 mês referia lesões corporais dispersas e pruriginosas, dispneia, edema dos membros inferiores e diminuição do débito urinário motivo pelo qual realizou um controlo analítico. Neste apresentava agravamento da função renal com creatinina de 9.45 mg/dl pelo que foi encaminhado para o SU.
Objectivamente com discreto edema dos membros inferiores, e presença de “blue toes”em ambos os pés. Repetiu estudo analítico : anemia normocitica e normocromica, eosinofilia, creatinina 10.8 mg/dl, acidémia metabólica e hematoproteinúria não nefrótica, sem eosinofilúria. Na ecografia renal rins dimensões e espessura parenquimatosa globalmente preservadas, sem uropatia obstrutiva.
Admitiu-se LRA/lesão renal rapidamente progressiva, em provável contexto de nefrite intersticial aguda e/ou aterombolismo renal.
Iniciou pulsos de metilprednisolona com fraca resposta e sem melhoria da função renal e foi observado por oftalmologia que detectou êmbolos de colesterol binoculares.
Realizou biópsia renal que foi compatível com ateroembolismo renal.
Por não recuperação da função renal teve alta orientado para programa regular de hemodiálise.
Discussão:
A incidência exacta da DRAE não é conhecida, pois muitos casos não são diagnosticados ou são identificados post-mortem. Apresenta um prognóstico reservado e índice de mortalidade elevado.
Pretende-se com este caso demonstrar que esta entidade deve ser considerada no diagnóstico diferencial de doentes com múltiplos factores de risco vasculares, que apresentem perda aguda da função renal, mesmo nos casos sem aparente factor precipitante, visto que este tipo de doentes se encontram em franco crescimento.
Salienta-se ainda que o importante está na prevenção, pois após a instalação de DRAE não existe terapêutica dirigida, podendo-se apenas realizar terapêutica de suporte como foi o caso.