Clínica de Anticoagulação Oral, Hospital de São Francisco Xavier, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental
Renato Guerreiro, Susana Quintão, Catarina Bastos, Juliana Campos, Inês Sarmento, José Guia, Manuel Araújo, Inês Araújo, Ana Leitão, Cândida Fonseca
Introdução:
Os anticoagulantes orais directos (DOACs) tornaram-se terapêutica de 1ª linha na anticoagulação de doentes com fibrilhação auricular (FA) ao longo da última década como alternativa aos antagonistas da vitamina K. Até à presente data foram aprovados 4 fármacos desta classe: apixabano, dabigatrano, edoxabano e rivaroxabano. As suas indicações e contraindicações são semelhantes, no entanto os estudos que conduziram à sua introdução no mercado foram realizados em doentes com FA contra varfarina, o que face à heterogeneidade das populações dos diferentes estudos, não permite compará-los entre si. Assim, permanece a questão quanto às diferenças entre eles nos que respeita à prevenção de eventos embólicos ou ocorrência de eventos hemorrágicos.
Objectivo:
Analisar a eficácia e segurança dos DOACs na prevenção de eventos embólicos, bem como na ocorrência de evento hemorrágicos em doentes com FA seguidos numa clinica de hipocoagulação ao longo de 8 anos.
Material e métodos: Numa população sob anticoagulação oral (ACO) com DOACs os doentes foram monitorizados sistematicamente através do programa Gota v.8.1.3, em consulta de enfermagem com apoio médico, ao longo de 8 anos, segundo as recomendações da European Heart Rhythm Association (EHRA).
Resultados:
Foi avaliada uma população total de 523 doentes com FA sob ACO com DOACs, 49.33% homens, idade média de 77 anos (DP 9.8). Do total de doentes 127 (24.28%) estavam sob apixabano, 125 (23.90%) sob dabigatrano, 71 (13.58%) sob edoxabano e 200 (38.24%) sob rivaroxabano, com doses ajustadas às co-morbilidades, a idade média de cada um dos grupos foi 79.4 (DP 8.3), 76.4 (DP 9.4), 77.4 (DP10.4) e 76.4 (DP10.4), respectivamente. Relativamente a eventos isquémicos, ocorreram 3 acidentes vasculares cerebrais (AVC) cardioembólicos no grupo de doentes sob apixabado, não tendo ocorrido nenhum no grupo do dabigatrano, edoxabano e rivaroxabano. No que respeita a eventos hemorrágicos verificaram-se 19 casos (3.6%) respectivamente, 3, 4, 1 e 11 no grupo do apixabano, dabigatrano, edoxabano e rivaroxabano. Verificou-se diferença estatisticamente significativa entre o grupo do rivaroxabano e do apixabano (Tukey´s test - intervalo de confiança (IC) 95% [- 0.045 - 0.017], P=0.02) relativamente à ocorrência de AVC. Não se verificaram diferenças estatisticamente significativas entre os outros grupos. Não se verificou diferença estatisticamente significativa entre qualquer um dos grupos relativamente a eventos hemorrágicos.
Conclusões:
A nossa análise mostrou que o número de eventos cardioembólicos/hemorrágicos foi mínimo atestando do posicionamento dos DOACs como fármacos de primeira linha. Não existiram, nesta população, diferenças significativas entre os diferentes DOACs no que respeita a eventos isquémicos ou hemorrágicos em com FA.