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QUILOTÓRAX - UM DESAFIO DIAGNÓSTICO
Doenças oncológicas - E-Poster
Congresso ID: P744 - Resumo ID: 526
Hospital de Vila Franca de Xira
Pedro Madeira Marques, Rita Tourais Martins, Filomena Esteves, José Barata
Introdução: Quilotórax é uma entidade rara, de etiologia maioritariamente traumática. No entanto, quando bilateral raramente tem esta causa e deve sempre levantar a suspeita de neoplasia. Neste caso apresentamos um doente com linfoma folicular com um quadro de insuficiência cardíaca descompensada, tendo-se depois constatado a presença de quilotórax secundário à neoplasia.

Caso clínico: Doente de 68 anos, sexo masculino, com antecedentes pessoais de Linfoma não Hodgkin folicular grau 1 estadio IVa FLIPI de alto risco, seguido em consulta de Medicina Interna, enfisema centrolobular, hipercolesterolémia, hipertensão e hiperplasia benigna da próstata, medicado habitualmente com telmisartan, nebivolol, rosuvastatina, alopurinol e dutasterida recorreu ao Serviço de Urgência do nosso hospital por quadro de dispneia de esforço de agravamento progressivo, ortopneia, dispneia paroxística noturna e edema dos membros inferiores com 2 meses de evolução. O exame objectivo apresentava murmúrio vesicular diminuído nas bases e edema dos membros inferiores até à raiz das coxas. Analiticamente com anemia normocitica normocrómica, elevação da PCR, lesão renal aguda, hiponatremia e elevação de proBNP (10000pgmL). Radiografia de tórax mostrava derrame pleural bilateral extenso, particularmente à esquerda. O doente foi internado para optimização da terapêutica para insuficiência cardíaca e estudo de derrame pleural. Realizou ecocardiograma que demonstrou ventrículo esquerdo com cavidade dilatada, com hipocinésia difusa, com fracção de ejecção calculada em 41%. Foi submetido a toracocentese diagnóstica, que revelou líquido de aspecto turvo com 4604 leucócitos com predomínio de células mononucleares e triglicéridos de 1023, sendo compatível com quilotórax.

Discussão: Embora malignidade seja a segunda causa mais comum de quilotórax, a apresentação por norma é unilateral, sendo o derrame bilateral raro. Os mecanismos propostos são vários, sendo os mais bem aceites a ruptura do canal torácico e o aumento da pressão dentro do canal, causando fluxo linfático retrógrado, provocando drenagem da linfa para o interior do espaço pleural. É uma situação grave que está associada a mau prognóstico, particularmente se a origem da neoplasia for hematológica. Embora o quadro de apresentação fosse sugestivo de insuficiência cardíaca descompensada, a maior extensão do derrame à esquerda alertou para a possibilidade de outras etiologias. Para além deste factor, não havia outros sinais ou sintomas que contradissessem etiologia cardiogénica para o derrame. Este caso alerta-nos para a necessidade de valorizar todos os antecedentes e todos os pormenores que os dados clínicos, analíticos e imagiológicos dos doentes apresentam, de forma a conseguirmos um diagnóstico e tratamento célere.