Introdução: A pericardite, para além de diagnóstico raro, constitui uma complicação pouco frequente de tuberculose, sendo o seu diagnóstico fundamental para instituição precoce de terapêutica adequada.
Caso Clínico: Homem, 50 anos, com história de contacto com tuberculose pulmonar há 4 anos, tendo realizado na altura rastreio de tuberculose latente que se revelou negativo. Sem outros antecedentes de relevo ou medicação habitual. Apresentava quadro com sete semanas de evolução de febre, de predomínio vespertino, associada a tosse seca, hipersudorese noturna e anorexia com perda ponderal de 4kg. Medicado com antibiótico e corticóide sem melhoria pelo que recorreu ao serviço de urgência. Ao exame objetivo sem alterações de relevo. Do estudo complementar salienta-se: Linfopenia com PCR discretamente elevada, citólise hepática ligeira, DHL no limite superior do normal e TC TAP a mostrar volumoso derrame pericárdico, com espessamento e realce do pericárdio, sugestivo de pericardite. Realizou ecocardiograma que revelou derrame pericárdico de médio/grande volume, circunferencial e com depósitos de fibrina, sem tamponamento e foi admitido, para estudo etiológico, sob ibuprofeno e colchicina. Do restante estudo efetuado destaca-se: VS 38mm, sem alterações da autoimunidade. Hemoculturas estéreis. Serologias CMV, EBV, Mycoplasma pneumoniae, Coxiella Burnetti, Chlamydia psittaci, Brucella, Coxsackie, Echo, HIV, HBV e HCV negativas. IGRA negativo. Broncoscopia sem alterações. Pesquisa de BAAR, DNA BK e CMV e exame cultural do LBA negativos. Durante o internamento manteve febre de predomínio noturno, linfopenia ligeira, PCR discretamente aumentada e aparecimento de anemia de doença crónica/inflamatória. Perante os achados considerada como hipótese de diagnóstico mais provável tuberculose, pelo que foi realizada pericardiocentese diagnóstica e biopsia do pericárdio, que revelou pericardite granulomatosa necrotizante, na presença de bacilos álcool-acido resistentes sugestivos de Mycobacterium tuberculosis. Iniciada terapêutica com etambutol, pirazinamida, rifampicina, isoniazida e prednisolona 60mg/dia, que manteve durante 2 meses. Posteriormente sob isoniazida e rifampicina, tendo-se optado por manter corticoterapia em esquema de descontinuação progressiva. Apesar da terapêutica instituída verificou-se evolução para perdicardite constritiva não calcificada tendo sido submetido a descorticação pericárdica. Manteve terapêutica antibacilar dupla até completar 9 meses e seguimento por equipa médica multidisciplinar.
Discussão: A pericardite constituiu um desafio diagnóstico que impõe, para esclarecimento etiológico, a realização de exames complementares e integração de resultados. Com este caso os autores pretendem salientar aspetos diagnósticos e reforçar a importância do acompanhamento no prognóstico, dada a detecção precoce de sinais de cronicidade ser fundamental na referenciação atempada para tratamento cirúrgico.