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UMA CAUSA ESQUECIDA DE DESCOMPENSAÇÃO DE INSUFICIÊNCIA CARDÍACA
Doenças cardiovasculares - E-Poster
Congresso ID: P145 - Resumo ID: 530
ULSM - Hospital Pedro Hispano
Isabel Vilas-Boas, Helena Greenfield, Carolina Paiva, Denise Magalhães, Ana Branco, Joana Cancela
A insuficiência cardíaca (IC) geralmente ocorre no contexto de baixo débito cardíaco. Contudo, em casos raros, pode estar associado a um estado de alto débito, sendo a construção de uma fístula arterio-venosa (FAV) uma das potenciais etiologias de IC de alto débito. Geralmente existe história de doença cardíaca prévia.
Apresenta-se o caso de um homem de 70 anos, com história de doença renal crónica (DRC) estadio 5 e cardiopatia isquémica com compromisso moderado da função sistólica, que construiu FAV no membro superior esquerdo para início de terapêutica de substituição da função renal (TSFR) a curto prazo. Um mês depois recorreu ao serviço de urgência por sinais e sintomas de IC descompensada com duas semanas de evolução. Ao exame objetivo apresentava-se polipneico, normotenso, normocárdico, com estase pulmonar e edema dos membros inferiores até ao joelho. Do estudo efetuado salienta-se agravamento da função renal, BNP elevado (2945 pg/mL) e ausência de subida de parâmetros inflamatórios ou de marcadores de necrose miocárdica.
Assumiu-se diagnóstico de IC descompensada e DRC agudizada em contexto de síndrome cardio-renal tipo 1. O doente foi internado para estudo e otimização terapêutica. Das possíveis etiologias a contribuir para a descompensação, excluiu-se infeção ou isquemia aguda, taquidisritmias, anemia ou alterações metabólicas. Para além disto, o doente negava incumprimento terapêutico, alteração recente da medicação ou consumo de nefro- ou cardiotóxicos. A FAV apresentava-se funcionante, com bom frémito e sopro e desenvolvimento para a veia cefálica.
Portanto, concluiu-se tratar-se de uma IC de alto débito no contexto da construção da FAV. O doente respondeu bem à terapêutica instituída, com resolução dos sinais de sobrecarga de volume e descida sustentada do valor de BNP, tendo tido alta após 12 dias de internamento com aumento da dose de diurético em ambulatório.
A patologia cardio-vascular está presente na maioria dos doentes com DRC, sendo a principal causa de mortalidade nestes doentes. A FAV é a opção preferencial num doente a iniciar TSFR, contudo, é importante relembrar os seus efeitos hemodinâmicos com diminuição aguda da resistência vascular periférica e consequente aumento do débito cardíaco. Este aumento tipicamente não tem significado clínico, mas, por vezes pode despoletar IC, sendo atualmente discutível como primeiro acesso em doentes idosos e com insuficiência cardíaca prévia. Apresentamos este caso para relembrar a construção de FAV como causa muitas vezes esquecida de IC.