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UMA CAUSA (IN)ESPERADA DE HIPOALBUMINEMIA
Doenças oncológicas - E-Poster
Congresso ID: P682 - Resumo ID: 51
Centro Hospitalar e Universitário São João
Inês Albuquerque, Ana Raquel Monteiro, Susana Ferreira, Jorge Almeida
Introdução: A hipoalbuminemia é um achado frequente e inespecífico na população idosa. É, na maioria das vezes, multifatorial, e habitualmente não está associada, per se, a anasarca. Na presença de edema generalizado e hipoalbuminemia grave, as principais hipóteses de diagnóstico a investigar são: insuficiência cardíaca (IC), insuficiência hepática (IH) ou proteinúria nefrótica. Quando estas patologias são excluídas, há lugar a investigação de outras causas menos frequentes, como são as mal-absortivas.
Caso clínico: Homem de 85 anos com antecedentes de hipertensão arterial, diabetes mellitus tipo 2, doença renal crónica em estadio 3 KDIGO, carcinoma da próstata submetido a radioterapia em 2005 e posterior R-TUV por cistite rádica iaterogénica.
Observado no Serviço de Urgência por cefaleia intensa bilateral e perda de força generalizada. Foi objetivada hemiparesia esquerda, parésia facial central esquerda e disartria, pelo que foi ativada a via verde de acidente vascular cerebral (VV-AVC). Os défices neurológicos reverteram ainda no SU e o estudo por tomografia computorizada (TC) cerebral não revelou imagem de isquemia. Foi internado no Serviço de Medicina Interna por suspeita de acidente isquémico transitório (AIT).
O estudo de doença cérebro-vascular, que foi inconclusivo quanto à etiologia do AIT.
Durante o internamento, exibiu picos febris esporádicos que se acompanhavam de elevação dos parâmetros analíticos de inflamação/infeção, sem qualquer outro sintoma. Apresentava exuberante edema dos membros inferiores até à raiz da coxa e mais discreto das mãos e peri-orbitário. Do estudo analítico: anemia microcítica e normocrómica, velocidade de sedimentação elevada, hipoalbuminemia de 12,3g/L, ferropenia e défice de vitamina B12. O restante estudo com doseamento de peptídeo natriurético-B, estudo da coagulação, parâmetros de citocolestase, ecografia abdominal e doseamento de proteínas em urina de 24h foi totalmente negativo. A eletroforese de proteínas séricas com proteinograma não mostrou pico sugestivo de monoclonalidade. Considerou-se a hipótese de causa mal-absortiva, pelo que foi pedido estudo endoscópico alto, que mostrou extensa neoplasia ulcerada. O estudo histológico confirmou tratar-se de adenocarcinoma. Fez estadiamento com TC mostrou nódulos pulmonares dispersos, formações nodulares hepáticas sugestivas de metástases e adenomegalias intra-abdominais. Dado estado avançado da neoplasia e a idade do doente, decidiu-se por tratamento paliativo.
Discussão: Este caso ilustra a importância da minucia diagnóstica e de interpretação dos achados analíticos. A hipoalbuminemia é, de facto muito frequente nos idosos, e decorrente, na maioria das vezes, da desnutrição e concorrência de várias comorbilidades. No entanto, valores extremos na ausência de outro contexto óbvio, devem levar a investigação etiológica mais aprofundada, que pode conduzir a diagnósticos inesperados.