INTRODUÇÃO:
A diarreia aguda é um fator preditor de morbimortalidade nos doentes imunodeprimidos. É importante fazer um diagnostico diferencial, tratamento dirigido e profilaxia.
CASO CLINICO:
Mulher, 40 anos com dor abdominal, 6 dejeções liquidas/dia, anorexia e perda ponderal. Colonoscopia com colite inespecífica e válvula ileocecal con úlcera superficial. Recorre ao Serviço do Urgencia 2 dias depois por persistência do quadro e retorragias.
Antecedentes de hepatopatia crónica, esplenomegalia, pancitopenia, doença autoimune não filiada, tiroidite de Hashimoto, bronquiectasias, imunodeficiência combinada e linfoma difuso de célula grandes B e Burkitt em 2014 tratada com protocolo Burkimab e transplante autólogo de células hematopoiéticas, atualmente livre de doença. Complicações infeciosas prévias: pneumonia a P. jiroveci, reativação de citomegalovirus (CMV), criptococose disseminada e infeção por C.difficile. Medicada com levotiroxina, metronidazol, pentamidina inalada e imunoglobulina (Ig) subcutânea. Alergias a cotrimoxazol e vancomicina. Ex-fumadora, sem outros hábitos tóxicos.
Exploração fisica com abdomen mole, depressivel e dor difusa à palpação. Analiticamente com leucócitos 2.34x109/L, neutrófilos 1,5x109/L, hemoglobina 109g/L normocítica normocrómica, plaquetas 31x109/L, Proteína C Reativa (PCR) 1,98 mg/dL. Coprocultura e toxina C. difficile negativas e biopsia de íleo terminal com CMV 189814 copias/mL.
Internada por colite por CMV e pancitopenia agravada iniciando foscarnet e profilaxia com Ig endovenosa, isaconazol, atovaquona e pentamidina inalada.
De destacar 1,0x109/L neutrófilos, 200-300/L linfócitos (CD4 99/L), 20-31x109/L plaquetas, proteínas 48g/L, albumina 28g/L, ferro 36µg/dL, ferritina 715ng/mL, saturação de transferrina 14.2%, IgA <0.08g/L, IgM <0.05g/L. VHB, VHC, HIV, CMV e hemocultivos negativos. Mielograma com hipocelularidade das 3 linhas mas morfologia normal e biopsia medular normal, incluindo cultura para Leishmania e micobacterias. Iniciou G-CSF, com boa resposta analitica.
Com melhoria gastrointestinal, no entanto, após 2 semanas de internamento, e depois de antibioterapia por infeção respiratória nosocomial apresentou aumento do número de dejeções e retorragias. Colonoscopia com pancolite e úlceras profundas. Biopsia com carga viral de CMV indetectável. Detetada toxina de C. dificile e coprocultura positiva para Campylobacter jejuni pelo que iniciou fidaxomicina e azitromicina.
À data de alta com dejeções pastosas, sem sangue, sem leucopenia nem neutrofilia mas linfócitos 3.6x109/L, plaquetas 26x109/L, hemoglobina 105g/L e PCR 0,60mg/dL.
Iniciou profilaxia secundária com valganciclovir para posterior alteração para letermovir.
DISCUSSÃO:
Este caso ilustra as diversas possibilidades etiológicas da diarreia aguda em doentes imunodeprimidos, tornando-se desafiante a decisão terapêutica mais adequada e com menos riscos de efeitos adversos, prevenção de complicações nosocomiais e decisão de profilaxia.