Patrícia Varela Ramos, Ana Oliveira, Marta Quaresma, Sofia Cruz, Ana Nunes, Zara Soares, Ana Palricas, José Barata
Introdução:
No Ocidente, a incidência das úlceras duodenais é de 6-15%. Os fatores preditores de mau prognóstico são: as múltiplas comorbilidades, a idade avançada e o estado fisiológico do doente. Os fatores de risco para complicações são: hemorragia da úlcera, dimensões da úlcera e a presença de fibrose.
Caso clínico:
Os autores apresentam o caso de um doente, do sexo feminino, 94 anos, com história de hipertensão arterial, diabetes mellitus tipo 2, dislipidémia, doença renal crónica e anemia crónica, encaminhada para o Serviço de Urgência por quadro de hematemeses e melenas com 2 dias de evolução.
Por episódio de hematemeses e hematoquézias activas, é abordada na sala de reanimação.
Ao exame objectivo, a salientar: GCS 12 (O4,M5,V3), prostrada. Palidez cutânea e sudorese. Hipotensa TA 50/30 mmHg. FC 90 bpm – pulso filiforme à palpação. Foram puncionados 2 acessos venosos e iniciou fluid challenge com soro fisiológico.
Foi realizada gasimetria arterial, destacando-se hiperlactacidémia (Lactato 6.8) e Hb 6.6g/dL.
Foi colocada sonda nasogástrica em drenagem passiva com saída de sangue vivo.
Assumido quadro de choque hipovolémico, realizou 2U de concentrado eritrocitário (CE) e iniciou protocolo com ácido tranexâmico.
Contactada Gastroenterologia, tendo sido encaminhada para endoscopia digestiva alta urgente, que revelou na região do bulbo com três úlceras de 6 mm na face anterior, uma das quais de fundo hematínico e volumoso coágulo na face posterior (classificação de Forrest IIB). Procedeu-se à injecção de adrenalina na base do coágulo que se destacou parcialmente, observando-se lesão ulcerada de 15 mm com fundo necrótico – colocado 1 clip mas sem encerramento da úlcera.
Admitida na Unidade de Cuidados Intensivos para vigilância, tendo mantido inibidor da bomba de protões endovenoso durante 72 horas. Na reavaliação analítica, Hb 9.3g/dL após as 2 transfusões de CE.
Evoluiu favoravelmente, registando-se apenas a registar 1 novo episódio de melenas em pequena quantidade, com necessidade de transfusão de mais 1UCE.
A doente esteve internada durante 10 dias, tendo alta com melhoria clínica.
Discussão:
A abordagem das úlceras gastroduodenais complicadas é complexa mas possível através de uma boa e rápida coordenação entre as várias especialidades, demonstrado neste caso clínico, que permitiu a recuperação de uma doente que tinha todos os fatores para mau prognóstico ou complicação.