Nuno Leal, Telmo Borges Coelho, Fábio Murteira, Filipa Borges Santos, José Ribeiro Almeida
Introdução:
A Pericardite Aguda caracteriza-se por uma inflamação do pericárdio com produção de exsudado inflamatório fibroso, podendo apresentar várias etiologias. Entre as menos comuns encontram-se a Pericardite Epistenocárdica e a Síndrome de Dressler, com uma incidência inferior a 5%. Estas diferem no tempo desde uma Síndrome Coronária Aguda (Sca) até ao aparecimento de clínica de pericardite aguda, sendo a primeira mais precoce e a segunda mais tardia.
Caso Clínico:
Mulher de 79 anos com antecedentes de diabetes mellitus tipo 2, doença renal crónica, insuficiência cardíaca, dislipidemia, hiperuricemia e obesidade. Medicada habitualmente com insulina, bisoprolol, candesartan, furosemida, ácido acetilsalicílico, rosuvastatina e quetiapina.
Admitida por dor retrosternal com irradiação dorsal com cerca de duas semanas de evolução e agravamento progressivo, sem relação com o esforço, intensificada com a inspiração profunda e com o ortostatismo, aliviada na posição sentada com flexão anterior do tronco. Sem outra clínica associada. Apresentava internamento cerca de 4 meses antes por Pneumonia Adquirida na Comunidade complicada de Sca tipo 2. Objetivamente com estabilidade hemodinâmica, febre, sons cardíacos hipofonéticos à auscultação, leucocitose franca, aumento da PCR, Troponina T e Mioglobina 2 vezes aumentadas mas sem curva sugestiva de Sca, ECG com SST milimétricos difusos e ecocardiograma sumário com derrame pericárdico de pequeno volume. Assumida Pericardite Aguda de provável causa infeciosa.
Durante o internamento excluídas etiologias imunológicas, endócrinas e infeciosas. Efetuou terapêutica com anti-inflamatório com melhoria lenta das queixas. Realizou ecocardiograma que demonstrou fração de ejeção de 54%, hipocinésia da parede lateral média e distal, do segmento anterolateral médio e do apex, não observadas na ecografia realizada no internamento prévio.
Submetida a angiografia coronária que mostrou artéria circunflexa com estenose de 80% no segmento proximal e de 95% no segmento distal. Realizou angioplastia com colocação de dois stents revestidos.
À data de alta apresentava-se assintomática, tendo sido duplamente antiagregada.
Discussão:
A destrinça entre Sca tipo 1 e Sca tipo 2 nem sempre é óbvia. No entanto, os fatores de risco para DCV deverão ser ponderados cautelosamente para criteriosa individualização da abordagem ao doente. A falha no diagnóstico poderá acarretar consequências graves como a morte ou, neste caso, uma complicação rara que, avaliada sistematicamente permitiu um diagnóstico correto que condicionou uma atitude modificadora de prognóstico.